Um
sorriso suave embelezava seu rosto de senhora de cinquenta e dois
anos. Cumpriam-se doze da morte de Pedro Henriquez Urena.
Ambos
o recordamos e ela repetiu o que me havia dito em 1946: para minha
juventude, a perda era irreparável, porém nada apagaria em mim a
lembrança de meu grande mestre. Vaguei pelo quarto. Os olhos de
minha mãe não se despegavam de mim. Condenada por uma cruel doença
cardíaca, jamais manifestou cansaço ou queixou-se, e foi fonte de
vida e de solidariedade para com os demais. Quando decidi retirar-me,
reteve minhas mãos nas suas e me disse: Não permitas que te
destruam. Adormeci pensando nessas palavras. Durante a noite sonhei
que resolvia vários assuntos na cidade e em La Plata, e que os
mesmos me angustiavam, embora não fossem de natureza que
justificassem esta sensação. Pela manhã avisaram-me que minha mãe
havia morrido.
Corri
ao apartamento de Viamonte, junto a Maipú. Já se estavam cumprindo
as primeiras formalidades próprias de tão triste circunstância. Na
primeira pausa de minha dor abri, com segurança, a gaveta de sua
mesinha. Aí estava a carta, escrita na véspera com sua serena letra
inglesa. Pedia-me que tratasse de vários assuntos em Buenos Aires e
em La Plata: eram aqueles assuntos com que eu havia sonhado.
Roy Bartholomew, em Livro de Sonhos, de Jorge Luis Borges
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