domingo, 8 de setembro de 2024

Cartas na Rua

13

Meu médico alemão apareceu. Era o mesmo que me aplicara os exames de sangue.
Parabéns — ele disse, apertando minha mão —, é uma menina de quatro quilos e meio.
E a mãe?
A mãe ficará bem. Não houve qualquer problema.
Quando poderei vê-las?
Logo vão te dizer. Sente-se ali e eles vão chamá-lo.
E depois disso ele se foi.

Olhei através do vidro. A enfermeira apontou para o meu bebê. O rosto estava muito vermelho e ela gritava mais alto do que todas as outras crianças. A sala estava cheia de bebês chorando. Tantos nascimentos! A enfermeira parecia muito orgulhosa da minha filhinha. Pelo menos, eu esperava que fosse a minha. Ela levantou a menina para que eu pudesse vê-la melhor. Sorri através do vidro, eu não sabia como agir. A menina só gritava para mim. Pobrezinha, pensei, pobre coisinha danada. Eu ainda não sabia que ela seria uma bela menina algum dia e que se pareceria muito comigo, hahaha.
Sinalizei à enfermeira para que a baixasse, e com um gesto me despedi das duas. Era uma enfermeira simpática. Boas pernas, bons quadris. Peitos fartos.

Fay tinha uma mancha de sangue no canto esquerdo da boca e eu peguei um lenço umedecido e a limpei. Mulheres nasceram para sofrer; não é de surpreender que peçam constantes declarações de amor.
Queria que me deixassem ficar com meu bebê — disse Fay —, não é justo nos separarem assim.
Eu sei. Mas acho que deve haver alguma razão médica.
Sim, mas não me parece certo.
Não, não é. Mas a criança parecia bem. Vou fazer o possível para que a tragam o quanto antes. Devia haver uns quarenta bebês lá embaixo. Estão fazendo todas as mães esperar. Acho que é para deixá-las recuperar as forças. Nossa bebê parecia muito forte, posso te garantir. Por favor, não se preocupe.
Vou ficar tão feliz quando estiver com ela.
Eu sei, eu sei. Não vai demorar.
Senhor — disse uma gorda enfermeira mexicana entrando —, vou pedir para o senhor sair agora.
Mas eu sou o pai.
Sabemos disso. Mas sua mulher precisa descansar.
Apertei a mão de Fay, beijei-a na testa. Depois disso, ela fechou os olhos e pareceu dormir. Não era mais uma mulher jovem. Talvez não tivesse salvado o mundo, mas tinha feito uma profunda melhoria. Um rufar de tambores para Fay.

Charles Bukowski, em Cartas na Rua

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