13
Meu
médico alemão apareceu. Era o mesmo que me aplicara os exames de
sangue.
— Parabéns
— ele disse, apertando minha mão —, é uma menina de quatro
quilos e meio.
— E
a mãe?
— A
mãe ficará bem. Não houve qualquer problema.
— Quando
poderei vê-las?
— Logo
vão te dizer. Sente-se ali e eles vão chamá-lo.
E
depois disso ele se foi.
Olhei
através do vidro. A enfermeira apontou para o meu bebê. O rosto
estava muito vermelho e ela gritava mais alto do que todas as outras
crianças. A sala estava cheia de bebês chorando. Tantos
nascimentos! A enfermeira parecia muito orgulhosa da minha filhinha.
Pelo menos, eu esperava que fosse a minha. Ela levantou a menina para
que eu pudesse vê-la melhor. Sorri através do vidro, eu não sabia
como agir. A menina só gritava para mim. Pobrezinha, pensei, pobre
coisinha danada. Eu ainda não sabia que ela seria uma bela menina
algum dia e que se pareceria muito comigo, hahaha.
Sinalizei
à enfermeira para que a baixasse, e com um gesto me despedi das
duas. Era uma enfermeira simpática. Boas pernas, bons quadris.
Peitos fartos.
Fay
tinha uma mancha de sangue no canto esquerdo da boca e eu peguei um
lenço umedecido e a limpei. Mulheres nasceram para sofrer; não é
de surpreender que peçam constantes declarações de amor.
— Queria
que me deixassem ficar com meu bebê — disse Fay —, não é justo
nos separarem assim.
— Eu
sei. Mas acho que deve haver alguma razão médica.
— Sim,
mas não me parece certo.
— Não,
não é. Mas a criança parecia bem. Vou fazer o possível para que a
tragam o quanto antes. Devia haver uns quarenta bebês lá embaixo.
Estão fazendo todas as mães esperar. Acho que é para deixá-las
recuperar as forças. Nossa bebê parecia muito forte, posso te
garantir. Por favor, não se preocupe.
— Vou
ficar tão feliz quando estiver com ela.
— Eu
sei, eu sei. Não vai demorar.
— Senhor
— disse uma gorda enfermeira mexicana entrando —, vou pedir para
o senhor sair agora.
— Mas
eu sou o pai.
— Sabemos
disso. Mas sua mulher precisa descansar.
Apertei
a mão de Fay, beijei-a na testa. Depois disso, ela fechou os olhos e
pareceu dormir. Não era mais uma mulher jovem. Talvez não tivesse
salvado o mundo, mas tinha feito uma profunda melhoria. Um rufar de
tambores para Fay.
Charles Bukowski, em Cartas na Rua
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