Saí
da confeitaria com sensações que se enfrentavam. Por uma parte,
sentia que era verdade o que se dizia: que se a televisão
conseguisse se difundir ia matar irremediavelmente o cinema.
Mas
sentia também uma pequena esperança para o meu ofício, pois logo
depois de saber de que assunto se tratava, disse a mim mesma que
ninguém ia preferir olhar aquelas imagens fantasmagóricas – e
naquela caixa tão fria – a ouvir como eu contava os filmes.
Embora
percebesse perfeitamente que o aparelhinho exercia uma fascinação
irresistível sobre quem olhasse para ele, também entendi que, uma
vez passada a novidade, todos iam despertar, sacudir-se do feitiço
como os cachorrinhos se sacodem da água, e iam voltar de novo ao
cinema e à sala da minha casa.
E
eu tornaria a contar meus filmes.
A
tele – como alguns já a chamavam com intimidade – era assim como
um chiclete novo: uma vez mastigado o suficiente, já não tinha
gosto de nada e acabava sendo cuspido sem remédio.
Eles
iam ver só.
Hernán Rivera Letelier, em A Contadora de Filmes
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