quinta-feira, 1 de agosto de 2024

A Paz

Nunca terás
a paz.
Por mais que a busques,
com ou sem funcho,
brota o quintal.

A paz palmeira
cresce por trás
de uma trincheira.

Pobre de ti
que a procuras.
Bebes o ódio
na tua cuia.
Comes o ódio,
bolo em fatias.
Quem te visita?

O ódio sempre,
adulterino,
bichado dentro:
flor, passarinho.

Palmilhas tantos recintos,
edifícios, labirintos.
Só a paz não te acompanha.
A paz não gera teu filho
e se corrói com tua fama,
com teus talhares, domingos.

Buscas o que te busca.
Escutas a lamúria, sem telégrafo,
dos que a esposam, viúva.

Nunca terás a paz
nos sótãos do tempo,
sob o lençol do sol,
amada escura.
Renascendo, vivendo,
castidade dura,
nem o amor te dará
o seu intento.

Carlos Nejar, em Ordenações

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