minha
mãe sempre disse achar que
este
francês era uma
graça
com
ochapéu de palha e a
bengala
que
dançava
enquanto
cantava.
e
meu pai sempre dizia: “por deus,
não!”
e
eles iam juntos ao
cinema
para
vê-lo.
o
francês fazia muitos filmes de modo
que
havia muitas discussões
sobre
ele
mas
as discussões sempre seguiam
o
mesmo caminho:
minha
mãe dizia: “ah, ele é uma
graça!”
e
meu pai seguia
com:
“por deus, não!”
certa
noite meu pai
persistiu
em
levar
o negócio
adiante:
“tudo
bem, você gosta dele
só
porque acha que ele é uma
graça?”
“não,
não! porque ele é uma graça
e
um
verdadeiro
cavalheiro!”
“um
cavalheiro?”
“claro!”
“que
bobagem é
essa
que
está
tentando
me
aplicar?”
eles
nunca
resolveram
essa
discussão
ela
se
resolveu
sozinha:
o
francês
morreu.
minha
mãe ficou muito
triste
por
alguns
meses
então
ela
descobriu
outro:
ele
não cantava ou
dançava
em seus
filmes
mas
atuava
e
tinha
longas
sobrancelhas
arqueadas
e
um nariz que lembrava
uma
fina
e
pequena
machadinha.
além
disso,
era
francês.
“tudo
bem”, meu
pai
perguntou,“e que tal
este
aí?”
minha
mãe levou
um
longo tempo
pensando,
então
disse:
“são
seus sentimentos
profundos...”
“sentimentos,
hein?”
“sim,
ele revela tanta
dor...”
“e
os
outros homens? Também
não
têm eles suas dores e seus
sentimentos?”
“não,
não como
ele...”
“ah,
por
deus...”
os
filmes eram sobretudo
que
meu pai e minha mãe
enfrentavam
naqueles
dias da
Depressão
então
as discussões
sobre
eles eram muito
importantes.
meu
pai gostava de um
camarada
chamado
Wallace
Beery
que
sempre parecia ter
alguma
coisa
escorrendo
do
nariz
que
ele limpava
com
uma das
mãos.
“que
homem
nojento!”,
dizia minha
mãe.
“ele
não é um
farsante”,
dizia meu
pai…
quanto
a mim,
gosto
de filmes sobre a Primeira Guerra
Mundial
em
que os
pilotos
de combate
estão
sempre apaixonados pela
mesma
loira
aguada
e
todos eles sempre
se
embebedam no
bar
antes
de
decolar…
como
família
eu
minha
mãe
meu
pai
nada
tínhamos
em
comum
dentro
ou fora
dos
filmes
e
as
coisas nunca
deixaram
de ser
assim
e
agora
é
tarde
demais.
Charles Bukowski, em Miscelânea septuagenária: contos & poemas
Nenhum comentário:
Postar um comentário