O
Quincas Borba divergiu do alienista em relação ao meu criado. –
Pode-se, por imagem, disse ele, atribuir ao teu criado a mania de
ateniense; mas imagens não são ideias nem observações tomadas à
natureza. O que o teu criado tem é um sentimento nobre e
perfeitamente regido pelas leis do Humanitismo: é o orgulho da
servilidade. A intenção dele é mostrar que não é criado de
qualquer. – Depois chamou a minha atenção para os cocheiros de
casa-grande, mais impertigados que o amo, para os criados de hotel,
cuja solicitude obedece às variações sociais da freguesia, etc. E
concluiu que era tudo a expressão daquele sentimento delicado e
nobre, – prova cabal de que muitas vezes o homem, ainda a engraxar
botas, é sublime.
Machado de Assis, em Memórias Póstumas de Brás Cubas
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