Nosso
povoado era um dos mais pobres da região. As pessoas não tinham
nada para ver nem para fazer nas longas tardes do deserto. Não havia
uma orquestra para ir dançar, não tínhamos banda de música que
tocasse valsinhas nos fins de semana, no coreto da praça. Não
tínhamos nem mesmo o dia do trem, que nos outros povoados onde havia
estação era dia de festa.
A
única coisa que nos restava era o cinema.
Acontece
que o salário nem sempre dava para comprar a entrada. Todo mundo
vivia de fiado, e para conseguir algum dinheiro antes dos dias de
pagamento a maioria acudia para empenhar a carteira de identidade com
o agiota.
O
agiota se chamava dom Nolasco.
Era
um homem comprido, todo cheio de ossos, furtivo feito cachorro do
deserto. Com o tempo tinha chegado a se transformar no homem mais
odiado da Mina. Não apenas por ser tão avarento, mas porque, além
disso, trabalhava como vigilante no único galpão de solteiros do
povoado. Lá, tinha de cuidar para que nenhum homem entrasse com
bebida ou mulheres em seus quartinhos. E nessas coisas, dom Nolasco
era tão rigoroso como na hora de cobrar seus empréstimos.
Nada
passava debaixo de seus olhos de coruja.
Nas
quintas-feiras, dia de pagamento na Mina, era comum ver as esposas
dos peões rogando que, por favor, dom Nolasco, pago metade agora e o
resto deixamos para a semana que vem, o que o senhor diz? É que
preciso comprar leite para o bebê.
Mas
não tinha jeito, o homem era duro e insensível como uma crosta de
salitre.
Algumas
vezes acompanhei mamãe para empenhar a carteira de identidade do meu
pai e vi a cara inexpressiva do homem.
De
verdade, parecia osso puro.
Ninguém
jamais o havia visto sorrir.
Hernán Rivera Letelier, em A Contadora de Filmes
Nenhum comentário:
Postar um comentário