Gonzalo
Guerrero
Se
retiram, vitoriosos, os ginetes de Alonso de Ávila. No campo de
batalha jaz, entre os vencidos, um índio com barba. O corpo,
despido, está lavrado de arabescos de tinta e sangue. Símbolos de
ouro estão pendurados em seu nariz, lábios e orelhas. Um tiro de
arcabuz partiu-lhe a testa.
Se
chamava Gonzalo Guerrero. Em sua primeira vida tinha sido marinheiro
do porto de Palos. Sua segunda vida começou há vinte e cinco anos,
quando naufragou na costa de Yucatán. Desde então, viveu entre os
índios. Foi cacique na paz e capitão na guerra. De mulher maia teve
três filhos.
Em
1519, Hernán Cortez mandou buscá-lo:
– Não
– disse Gonzalo ao mensageiro. – Olhe meus filhos, bonitos
que são. Deixe-me algumas destas contas verdes que você traz. Eu as
darei aos meus filhos, e lhes direi: “Estes brinquedos mandam meus
irmãos, da minha terra”.
Muito
depois, Gonzalo Guerrero caiu defendendo outra terra, lutando junto a
outros irmãos, os irmãos que escolheu. Ele foi o primeiro
conquistador conquistado pelos índios.
Eduardo Galeano, em Os Nascimentos
Nenhum comentário:
Postar um comentário