Queria
transformar o vento.
Dar
ao vento uma forma concreta e apta a foto.
Eu
precisava pelo menos de enxergar uma parte física do vento:
uma
costela, o olho…
Mas
a forma do vento me fugia que nem as formas de uma voz.
Quando
se disse que o vento empurrava a canoa do índio para o barranco
Imaginei
um vento pintado de urucum a empurrar
a
canoa do índio para o barranco.
Mas
essa imagem me pareceu imprecisa ainda.
Estava
quase a desistir quando me lembrei do menino montado no cavalo do
vento
— que
lera em Shakespeare.
Imaginei
as crinas soltas do vento a disparar pelos prados com o menino.
Fotografei
aquele vento de crinas soltas.
Manoel de Barros, em Ensaios fotográficos
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