As
cigarras começaram de novo, brutas e brutas.
Nem
um pouco delicadas as cigarras são.
Esguicham
atarraxadas nos troncos
o
vidro moído de seus peitos, todo ele
— chamado
— canto cinzento-seco, garra
de
pêlo, arame, um áspero metal.
As
cigarras têm cabeça de noiva,
as
asas como véu, translúcidas.
As
cigarras têm o que fazer,
têm
olhos perdoáveis.
Quem
não quis junto deles uma agulha?
— Filhinho
meu, vem comer,
ó
meu amor, vem dormir.
Que
noite tão clara e quente,
ó
vida tão breve e boa!
A
cigarra atrela as patas
é
no meu coração.
O
que ela fica gritando eu não entendo,
sei
que é pura esperança.
Adélia Prado, em Bagagem
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