A
tinta e a lápis
escrevem-se
todos
os
versos do mundo.
Que
monstros existem
nadando
no poço
negro
e fecundo?
Que
outros deslizam
largando
o carvão
de
seus ossos?
Como
o ser vivo
que
é um verso,
um
organismo
com
sangue e sopro,
pode
brotar
de
germes mortos?
*
O
papel nem sempre
é
branco como
a
primeira manhã.
É
muitas vezes
o
triste e pobre
papel
de embrulho;
é
de outras vezes
de
carta aérea,
leve
de nuvem.
Mas
é no papel,
no
branco asséptico,
que
o verso rebenta.
Como
um ser vivo
pode
brotar
de
um chão mineral?
João Cabral de Melo Neto, in Antologia Poética
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