sábado, 25 de maio de 2024

A Contadora de Filmes | [20]


Foi na Écran que eu descobri que a maioria dos atores e atrizes famosos usavam nomes fictícios, porque os deles, os reais, eram tão feios como o meu. Ou até mais. Como exemplo dos exemplos havia Pola Negri, a grande diva do cinema mudo. Eu sempre havia gostado muito do seu nome, achava que era perfeito para uma atriz. Mas um belo dia descobri com horror que era pseudônimo, e que seu verdadeiro nome era Apolônia Chavulez. Não podia ser verdade, me disse consternada. Com aquele nome a coitadinha não teria graça nem piscando as pestanas.
Meu outro desencanto foi quando soube que Anthony Quinn, um de meus atores favoritos, na verdade se chamava Antonio Quiñones.
Que jeito de perder o glamour!
Alguém depois me disse que os artistas de todos os ramos usavam pseudônimos.
Que além dos poetas como Pablo Neruda (Neftalí Reyes) e Gabriela Mistral (de nome Lucila Godoy), até os cantores usavam. Principalmente todos esses cantores da “nova onda”, como eram chamados, e que começavam a ser ouvidos a cada instante em cada uma das emissoras do país.
E como exemplo, me deram três joias:
Um sujeito que se chamava Patrício Núñez se batizou como Pat Henry; Pat Henry e seus Diabos Azuis. Outro, um tal de Javier Astudillo Zapata, passou a se chamar Danny Chilean. E uma colegial, Gladis Lycavecchi, se converteu numa grande estrela da canção e das fotonovelas com o artístico nome de Sussy Veccky.
Foi assim que, para não ficar por baixo, comecei a procurar meu pseudônimo artístico. Depois de muito pensar, inventar e compor nomes – alguns tirados da revista Écran, outros do santoral do calendário e até de uma velha Bíblia que havia em casa, única herança do meu avô paterno –, nenhum me convencia. Até que uma tarde ouvi a vizinha ilustrada da viela falando com meu pai:
Sua filha é uma fada contando filmes, vizinho, e sua varinha mágica é a palavra. Com ela, nos transporta.”
Então, tive a ideia. Acendeu a luz do sótão, como dizia meu irmão maior. Eu ia me chamar Fada Docine.
Fada Docine.
Repeti o nome várias vezes e achei que soava bem; deixava inclusive um sabor afrancesado na boca.
E o melhor é que não tinha nenhum eme.

Hernán Rivera Letelier, in A Contadora de Filmes

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