Foi
na Écran que eu descobri que a maioria dos atores e atrizes
famosos usavam nomes fictícios, porque os deles, os reais, eram tão
feios como o meu. Ou até mais. Como exemplo dos exemplos havia Pola
Negri, a grande diva do cinema mudo. Eu sempre havia gostado muito do
seu nome, achava que era perfeito para uma atriz. Mas um belo dia
descobri com horror que era pseudônimo, e que seu verdadeiro nome
era Apolônia Chavulez. Não podia ser verdade, me disse consternada.
Com aquele nome a coitadinha não teria graça nem piscando as
pestanas.
Meu
outro desencanto foi quando soube que Anthony Quinn, um de meus
atores favoritos, na verdade se chamava Antonio Quiñones.
Que
jeito de perder o glamour!
Alguém
depois me disse que os artistas de todos os ramos usavam pseudônimos.
Que
além dos poetas como Pablo Neruda (Neftalí Reyes) e Gabriela
Mistral (de nome Lucila Godoy), até os cantores usavam.
Principalmente todos esses cantores da “nova onda”, como eram
chamados, e que começavam a ser ouvidos a cada instante em cada uma
das emissoras do país.
E
como exemplo, me deram três joias:
Um
sujeito que se chamava Patrício Núñez se batizou como Pat Henry;
Pat Henry e seus Diabos Azuis. Outro, um tal de Javier Astudillo
Zapata, passou a se chamar Danny Chilean. E uma colegial, Gladis
Lycavecchi, se converteu numa grande estrela da canção e das
fotonovelas com o artístico nome de Sussy Veccky.
Foi
assim que, para não ficar por baixo, comecei a procurar meu
pseudônimo artístico. Depois de muito pensar, inventar e compor
nomes – alguns tirados da revista Écran, outros do santoral do
calendário e até de uma velha Bíblia que havia em casa, única
herança do meu avô paterno –, nenhum me convencia. Até que uma
tarde ouvi a vizinha ilustrada da viela falando com meu pai:
“Sua
filha é uma fada contando filmes, vizinho, e sua varinha mágica é
a palavra. Com ela, nos transporta.”
Então,
tive a ideia. Acendeu a luz do sótão, como dizia meu irmão
maior. Eu ia me chamar Fada Docine.
Fada
Docine.
Repeti
o nome várias vezes e achei que soava bem; deixava inclusive um
sabor afrancesado na boca.
E
o melhor é que não tinha nenhum eme.
Hernán Rivera Letelier, in A Contadora de Filmes
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