Alvarado
Faz
meio ano, as naves desembarcaram em Puerto Viejo.
Chamado
pelas promessas de um reino virgem, Pedro de Alvarado tinha saído da
Guatemala. Era seguido por quinhentos espanhóis e dois mil escravos
índios e negros. Os mensageiros disseram:
– O
poder que te espera humilha o que conheces. Ao norte de Tumbes,
multiplicarás a fama e a riqueza. Do sul, Pizarro e Almagro já são
donos, mas o fabuloso reino de Quito não pertence a ninguém.
Nas
aldeias da costa, encontraram ouro, prata e esmeraldas. Carregados de
rápidas fortunas, empreenderam marcha rumo à cordilheira.
Atravessaram a selva, os pântanos, as febres que matam em um dia ou
deixam louco, e as aterradoras chuvas de cinzas de vulcão. Nos
páramos dos Andes, os ventos afiados e as tormentas de neve
despedaçaram os corpos dos escravos, ignorantes do frio, e os ossos
de muitos espanhóis se incorporaram à montanha. Ficaram gelados
para sempre os soldados que desceram para apertar os arreios dos
cavalos. Os tesouros foram arrojados ao fundo dos abismos: Alvarado
oferecia ouro e os soldados clamavam por comida e abrigo. Queimados
os olhos pelos resplendedores da neve, Alvarado continuou avançando,
aos trambolhos, e a golpes de espada ia cortando cabeças de escravos
que caíam e de soldados que se arrependiam.
Quase
defuntos, músculos de gelo, congelado sangue, os mais duros
conseguiram chegar ao altiplano. Hoje alcançam, finalmente, o
caminho real dos incas, o que conduz a Quito, ao paraíso. Nem bem
chegam, descobrem no barro as marcas frescas das ferraduras dos
cavalos. O capitão Benalcázar chegou primeiro.
Eduardo Galeano, in Os Nascimentos
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