quinta-feira, 4 de abril de 2024

Para registro

As nuvens e as estrelas não promoveram esta guerra
os córregos não informaram nada
se a montanha vomitou pedras de fogo no rio
ela não estava escolhendo um lado
a chuva que fracamente balançava sob as folhas
não tinha opinião política

e se aqui ou ali uma casa
repleta de esgoto não tratado
ou que envenenou quem lá vivia
com lentas exalações, ao longo dos anos
as casas não estavam em guerra
nem estavam os prédios lacrados com estanho

buscando recusar abrigo
para velhas sem-teto e crianças de rua
eles não tinham qualquer política para mantê-las na rua
ou morrendo, não, as cidades não eram o problema
as pontes não eram guerrilheiras
as autoestradas queimaram, mas não com ódio

Até mesmo as milhas de arame farpado
esticadas em volta de humilhantes abrigos temporários
projetados para manter os indesejáveis
a uma distância segura, longe da vista
mesmo as tábuas que precisavam absorver
ano após ano, tantos sons humanos

tantos profundos vômitos, lágrimas
sangue lentamente encharcando
não se ofereceram para isso
As árvores não se voluntarizaram para ser cortadas em tábuas
nem os espinhos para rasgar a carne
Olhe em volta para tudo isso

e pergunte que assinaturas
estão estampadas nas ordens, e traçadas
no canto das plantas dos prédios
Pergunte onde estavam as mulheres analfabetas,
barrigudas, as bêbadas e loucas,
aquelas que você teme mais do que tudo:
pergunte onde você estava.

Adrienne Rich (tradução de André Caramuru Aubert)

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