A
primeira vez que pude falar a Virgília, depois da presidência, foi
num baile em 1855. Trazia um soberbo vestido de gorgorão azul, e
ostentava às luzes o mesmo par de ombros de outro tempo. Não era a
frescura da primeira idade; ao contrário; mas ainda estava formosa,
de uma formosura outoniça, realçada pela noite. Lembra-me que
falamos muito; e lembra-me que não aludíamos a coisa nenhuma do
passado. Subentendia-se tudo. Um dito remoto, vago, ou então um
olhar, e mais coisa nenhuma. Pouco depois, retirou-se; eu fui vê-la
descer as escadas, e não sei por que fenômeno de ventriloquismo
cerebral (perdoem-me os filólogos essa frase bárbara) murmurei
comigo esta palavra profundamente retrospectiva:
– Magnífica!
Convém
intercalar este capítulo entre a primeira oração e a segunda do
capítulo 129.
Machado de Assis, in Memórias Póstumas de Brás Cubas
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