Eu
mal o conheci
quando
era vivo.
Mas
o que sabe
um
homem de outro homem?
Houve
sempre entre nós certa distância,
um
pouco maior que a desta mesa onde escrevo
até
esse retrato na parede
de
onde ele me olha o tempo todo. Para quê?
Não
são muitas as lembranças
que
dele guardo: a aspereza
da
barba no seu rosto quando eu o beijava
ao
chegar para as férias;
o
cheiro de tabaco em suas roupas;
o
perfil mais duro do queixo
quando
estava preocupado;
o
riso reprimido
até
soltar-se (alívio!)
na
risada.
Falava
pouco comigo.
Estava
sempre
noutra
parte: ou trabalhando
ou
lendo ou conversando
com
alguém ou então saindo
(tantas
vezes!) de viagem.
Só
quando adoeceu e o fui buscar
em
casa alheia
e
o trouxe para a minha casa (que infinitos
os
cuidados de Dora com ele!)
estivemos
juntos por mais tempo.
Mesmo
então dele eu só conheci
a
luta pertinaz
contra
a dor, o desconforto,
a
inutilidade forçada, os negaceios
da
morte já bem próxima.
Até
o dia em que tive de ajudar
a
descer-lhe o caixão à sepultura.
Aí
então eu o soube mais que ausência.
Senti
com minhas próprias mãos o peso
do
seu corpo, que era o peso
imenso
do mundo.
Então
o conheci. E conheci-me.
Ergo
os olhos para ele na parede.
Sei
agora, pai,
o
que é estar vivo.
José Paulo Paes, in Melhores Poemas
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