segunda-feira, 25 de março de 2024

Parte 2 | Capítulo 2


Bem, foi a admissão desse novo tcheloveque que iniciou realmente a minha saída da velha Prisesta, porque ele era um plene tão safado e encrenqueiro, de mentalidide tão nojenta e intenções tão asquerosas que a encrenca natchinatou naquele mesmo dia. Ele era também muito faroleiro e começou fazendo um litso muito desdenhoso para nós todos e uma golosse alta e orgulhosa. Esclareceu que era o único prestúpnique realmente horrorshow que tinha no zoo inteiro, e foi por ali afora, dizendo que tinha feito isso e acontecido aquilo e matado dez rodzes de uma ruqueada só e essa quel toda. Mas ninguém se impressionou muito, ó meus irmãos.
Aí ele começou pra cima de mim, já que era o mais moço que tinha lá dentro, querendo dizer que, como eu era o mais moço, eu é que devia zasnutar no chão, e não ele. Mas os outros todos ficaram do meu lado, critchando: “Deixa ele quieto, seu gréjine brétchene”, e ai ele começou com a velha lamúria de que ninguém gostava dele. Então, naquela mesma nótchi eu acordei e encontrei aquele plene horrendo simplesmente deitado junto comigo no catre, que era o de baixo, numa pilha de três, e muito estreito, e ele estava govoritando eslovos de amor e toca-toca-toca. Aí eu fiquei realmente bezúmine e sentei a lenha, se bem que não estivesse enxergando tão horrorshow assim, que só tinha aquela luzinha vermelha malenque do lado de fora, no patamar da escada. Mas eu sabia que era ele, o puto vonento, e aí a encrenca começou de verdade e ligaram as luzes e eu videei o seu litso horrendo com o crove todo pingando da rote, onde eu tinha acertado com o meu rúquer cerrado.
O que eslutchatou então, naturalmente, foi que os meus companheiros de cela acordaram e começaram a entrar na dança, toltchocando meio adoidado na semi-obscuridade, e parece que o chume acordou a galeria inteira e esluchava-se um bocado de gente critchando e batendo com as canecas de lata na parede como se todos os plenes, em todas as celas, pensassem que estivesse pra começar uma fuga em massa, ó meus irmãos.
Aí então as luzes se acenderam e os tchassos chegaram de mangas de camisa, calça e boné e agitando grandes bastões. Aí nós pudemos videar os nossos litsos afogueados e a agitação de róqueres fechados, e houve um bocado de critche e palavrão. Aí eu fiz a minha reclamação e todos os tchassos disseram que, provavelmente o Vosso Humilde Narrador, irmão, é que tinha começado mesmo o negócio, porque eu não tinha marca nem arranhão, mas havia aquele horrível plene pingando crove vermelho, vermelho da rote onde eu tinha acertado meu rúquer fechado. Aquilo me deixou muito bezúmine. Eu disse que não dormia nem mais uma nótchi naquela cela se as Autoridades Penitenciárias viessem permitir que prestúpniques pervertidos, vonentos e nojentos pulassem em cima do meu plote numa hora em que eu estava dormindo, sem condições de me defender. “Espera até de manha”, disseram eles. “É um quarto particular com banheiro e televisão que vossa senhoria deseja? Muito bem, amanhã de manhã vamos ver isso. Mas por enquanto, druguinho, enfia a porra do gúliver no teu podúcheca de palha e que ninguém mais faça confusão. Certo, certo, certo?” E lá se foram eles com severas advertências a todos, e logo depois as luzes se apagaram e aí eu disse que ia passar o resto da nótchi sentado, dizendo antes ao prestúpnique nojento:
Vai, sobe no meu catre se quiser. Eu não quero mais. Você já emporcalhou tudo, deitando o seu plote vonento e nojento em cima dele. – Mas aí os outros se meteram. O Judeuzão falou, ainda suando da bitvazinha que a gente tinha tido no escuro
Efa a gente não afeita não, irmãof. Não dá o lugar pra efe merda não. – Aí o novo disse:
Fecha o penico, juda – querendo dizer pra calar a boca, mas era muito insultuoso. Então o Judeuzão se preparou pra mandar um toltchoque. O Doutor falou:
Vamos, senhores, nós não queremos confusão, queremos? – com a sua golosse de classe alta, mas o tal prestúpnique novo estava mesmo pedindo. videava-se que ele estava mesmo pensando que era um veque de muito bolche importância e que estava abaixo da sua dignidade ficar dividindo uma cela com outros seis e tendo que dormir no chão, até que eu fiz aquela atitude pra ele. Com seu jeito desdenhoso ele tentou arremedar o Doutor, fazendo:
Óóóó, vocêsss não quierem mass confuseo, não é seusss capadossos? – Então Jojohn, maldoso, astuto agitadinho, disse:
Já que não podemos dormir, então vamos à educação. Aqui o nosso novo colega devia receber uma aula.
Apesar de ser assim especialista em Estupro, ele tinha um modo agradável de govoritar, calmo e assim preciso. Aí, o novo plene escarneceu: “Nhenhenhenhé, seu monstrenguinho.” Aí é que o negócio começou mesmo, mas de um modo estranho, assim suave, sem ninguém levantar muito a golosse. O novo plene critchou um malenquinho no começo, mas o Muro punhou ele na rote, enquanto o Judeuzão segurava ele contra as grades pra que pudesse ser videado à malenque luz vermelha do patamar da escada, e ele fazia só ai ai ai. O tipo dele não era de veque muito forte, sendo muito débil na tentativa de toltchocar de volta, e eu presumo que ele compensava isso usando uma golosse muito chumenta e muito convencida. Seja como for, quando eu vi o crove velho correr vermelho na luz vermelha, eu senti aquela velha alegria assim tomando conta das minhas quíchecas e disse:
Deixa ele pra mim, anda, me dá ele agora, irmãos.
Aí o Judeuzão falou:
É fim, é fim, pefoal, é jufto. Amafa ele você agora, (sic) Alecf. - E aí eles ficaram em volta enquanto eu rachava aquele prestúpuique na semi-obscuridade. Eu punhei ele todo, dançando á volta de botas, se bem que desamarradas, e aí pisoteei ele e ele fazia pafe pafe no chão. Dei-lhe um pontapé muito horrorshow no gúliver e o Doutor falou:
Tá bom, isso chega como castigo – olhando com os olhos semicerrados pra videar o veque surrado e arriado no chão. – Deixa, que talvez ele esteja sonhando em ser um menino melhor no futuro. – Então, nós todos subimos nos catres, que agora estávamos todos muito cansados. O que eu sonhei, meus irmãos, foi que eu estava numa orquestra imensa, de centenas e centenas de músicos, e o regente era assim uma mistura de Ludwig van e G. F. Handel, e parecia muito surdo e cego e cansado do mundo. Eu ficava em meio aos instrumentos de sopro, mas o que eu estava tocando era assim um fagote branco-rosado feito de carne e saindo do meu plote, bem no meio da minha barriga, e quando eu soprava nele eu tinha de esmecar hi hi hi muito alto, porque ele me fazia assim cócegas, e aí Ludwig van G. F. ficou muito rasdraz e bezúmine. Então ele veio direto ao meu litso e critchou alto no meu uco e aí eu acordei assim suando. Naturalmente, o chume alto era na realidade a campainha da prisão brrrr brrrr brrrr. Era manhã de inverno e os meus glazes estavam todos quelentos de remela e quando eu abri, eles doeram com a luz elétrica que tinha sido acesa no zôo inteiro. Ai, eu olhei pra baixo e videei o novo prestúpuique muito ensangúcutado e machucado e ainda completamente desligado.
Mas quando eu desci do catre e mexi nele com o meu noga descalço, o toque foi assim frio e rígido; então eu fui até o catre do Doutor e sacudi ele, que era muito duro de acordar de manhã. Mas ele saiu do catre bastante escorre dessa vez, e o mesmo fizeram os outros, com exceção do Muro, que dormia como um bife. – Muito lamentável – disse ô Doutor. – Ataque cardíaco, deve ter sido isso. – Aí ele disse olhando em torno, pra nós todos: – Realmente, vocês não deviam ter partido pra ele desta forma. Foi realmente muito mal ensado. –
Jojohn disse:
Deixa disso, ô doutor você também não ficou pra trás na hora de dar a sua porradinha. – Ai, o Judeuzão virou-se pra mim, dizendo:
Alecf, vofê foi muito impetuovo. Aquele último fiute foi muito fério. – Eu comecei a ficar rasdraz com aquilo (sic) e falei:
Quem foi que começou, hein? Eu só peguei ele no fim, não foi? Apontei pra Jojohn dizendo: – A ideia foi sua! – O Muro roucou um pouco alto, então eu disse: – Acordem esse brétchene vonento. Foi ele que ficou batendo na rote enquanto aqui o Judeuzão segurava ele de encontro à grade. – O Doutor falou:
Ninguém pode negar que bateu um pouquinho no homem, pra lhe dar uma lição, digamos assim, mas aparentemente foi você, meu caro jovem, que, com o vigor e, diria eu, a maneira descuidosa da juventude, aplicou-lhe o golpe de misericórdia. Grande lástima.
Traidores – disse eu. – Traidores e mentirosos porque eu podia videar que era tudo como antes, dois anos antes quando os meus falsos drugues tinham me abandonado aos rúqueres brutais dos milicentes. Não se podia confiar em ninguém neste mundo, ó meus irmãos, pelo que eu estava vendo. E Jojohn foi acordar o Muro, e o Muro estava mais do que pronto a jurar que tinha sido o Vosso Humilde Narrador que tinha realmente praticado os tolchoques e a repugnante brutalidade. Quando os tchassos chegaram e depois o Tchasso-Chefe e depois o próprio diretor, aqueles meus drugues todos ficaram muito chumentos, contando lorotas a respeito de tudo o que eu tinha feito pra ubivatar aquele pervertido inútil, cujo plote coberto de crove jazia no chão como um saco.
Aquele foi um dia muito estranho, ó meus irmãos. o cadáver foi levado embora, e aí todo mundo na prisão inteira teve que ficar trancado até segunda ordem, e não deram píchetcha, nem mesmo uma caneca de tchai quente. A gente ficou tudo sentado lá, e os carcereiros ou tchassos lavam passadas pra cima e pra baixo na galeria critchando de vez em quando: “Fecha essa cloaca!” assim que esluchavam nem que fosse um cochicho em uma das celas. Então, por volta de onze horas da manhã, houve uma espécie assim de retesamento e excitação e assim o vone do medo se espalhando e vindo de fora da cela e a gente podia videar o Diretor, o Tchasso-Chefe e alguns tcheloveques de bolche importância passando muito escorre, govoritando que nem bezúmines. Pareciam se dirigir para o fim da galeria, depois dava pra esluchar eles voltando novamente, dessa vez mais devagar, e esluchava-se o Diretor, um veque muito gordo e suarento e de cabelo claro, dizendo slovos como “Mas, Excelência...” e “Bem, mas o que se pode fazer, Excelência?” e assim por diante. Depois o banho todo parou na nossa cela e o Tchasso-Chefe abriu. Vodeava-se logo de cara quem era o veque realmente importante; muito alto, de glazes azuis, e vestindo pletes realmente horrorshow, o terno mais lindo que eu já tinha visto, no rigor da moda. Ele só lançou um olhar sobre nós, pobres plenes, dizendo, numa golosse muito bonita, realmente educada: “O Governo não pode mais se preocupar com teorias penalógicas caducas. Amontoem-se delinquentes deste modo e veja-se o que acontece. Obtém-se a criminalidade concentrada, o crime no meio do castigo. Em breve, estaremos necessitando de todo o espaço de nossas prisões para os transgressores políticos.” Isso eu não poniei nada, irmãos, mas afinal ele não estava falando comigo. Aí, ele disse: “Os criminosos comuns, como essa malta intragável” (isso era eu, irmãos, tanto quanto os outros, que eram verdadeiros prestóúpniques e muito traiçoeiros), “podem ser melhor tratados em bases puramente curativas. Matar o reflexo criminoso, só isso.”
Implementação completa em um ano. O castigo não significa nada para eles, como podem ver. Eles desfrutam do pretenso castigo. Começam a se assassinar uns aos outros." E voltou os seus olhos azuis pra mim. Aí, eu disse, muito atrevido:
Com o devido respeito, Excelência, eu protesto energicamente contra o que o senhor acaba de dizer. Eu não sou um criminoso comum, e não sou intragável. Os outros podem ser intragáveis, mas eu não sou. – O Tchasso-Chefe ficou violáceo e critchou.
Feche essa cloaca imunda! Você sabe com quem está falando?
Deixe, deixe – disse o tal veque grande. Aí ele se virou pro Diretor e disse: – Pode usá-lo como abre-alas. Ele é jovem, atrevido, perverso. Brodsky vai tomar conta dele amanhã e o senhor pode ficar sentado lá e ver Brodsky trabalhar. Funciona bem, não se preocupe. Este jovem baderneiro, perverso vai ser irreconhecivelmente transformado.
E esses duros eslovos, meus irmãos, foram assim o início da minha liberdade.

Anthony Burgess, in Laranja Mecânica

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