Sempre
tratei a morte
como
toira pesada.
sempre
tratei a morte
na
lavrada.
sempre
tratei a morte
como
um odre.
À
vida, a morte me trata
com
a cautelosa pata.
II
O
morto
como
um móvel,
na
sala, de perto,
conformado
e justo
no
bote, coisa
entre
coisas.
Seu
rosto pendurado
no
corpo, engaste,
disciplina
férrea
do
tronco, ave
empalhada
no pouso.
Sempre
tratei a morte como toira pesada.
III
O
morto
com
seus navios
atracados
por estrago;
desprovido
de companhia
ou
casas, anódino,
e
que não finge.
no
cargo.
O
morto
e
as ânsias
entupidas
na laringe,
moscas.
O
morto
e
a hortaliça no estômago,
ao
reverso de tudo
sem
trajeto ou porto.
Sempre
tratei a morte
na
lavrada.
IV
O
morto e seu motor paralisado,
com
ferrugem nas correias e peças,
mofo
nas hélices.
O
morto, troféu sem dono,
dentro
do ar se infiltra
e
se põe sob a tampa
do
acontecido.
Tudo
na pele envidra
e
o regato dos sentidos
ali,
não vinga.
Forço-o
como
quem arromba a porta
de
um prédio em cinzas.
Sempre
tratei a morte
como
um odre.
À
vida, a morte me trata
com
a cautelosa pata.
Carlos Nejar, in A Idade da Noite
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