Um
homem está debaixo de um carro seminu
uma
criança brinca de tourada com um pano rasgado
pinheiros
enlutados envoltos na névoa
uma
mulher fala ao telefone, olha no espelho
brincando
com o puxador metálico da gaveta
Ela
viu o seu mundo esfregado e limpo, o pano
que
o limpou desintegrado na névoa
ou
dando o último suspiro na crosta de um espelho
Ela
viu sua vida se fechar como uma gaveta
acordou
em algum outro lugar, nua
Ele
sente sua pele como se ela estivesse na névoa
como
se seu rosto se mostrasse em espelho algum
Ele
precisa dos parafusos que largou numa gaveta perdida
rasteja
para dentro do mundo dos pinheiros com suas mãos
apenas,
esfrega sua chave-inglesa com um pano encharcado de óleo
encara
a mulher falando no espelho
a
qual trancou o telefone na gaveta
enquanto
de novo e de novo, com um pano rasgado
na
beira do pinheiral atrás do motel depauperado
uma
criança provoca a besta chifruda feita de névoa.
Adrienne Rich (tradução de André Caramuru Aubert)
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