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As
casas do povoado, como em todos os salitrais do deserto, definiam
perfeitamente as três classes sociais que imperavam: as casas de
chapas de zinco dos peões, as casas de adobe dos empregados, e os
luxuosos chalés dos gringos.
A
nossa casa era um barracão de zinco carcomido dividido em três
partes. A primeira era a “sala de visitas”, como todo mundo dizia
(embora em nossa casa nunca tenha havido visitas). A segunda servia
de dormitório, e a terceira parte, a lá do fundo, de cozinha e sala
de jantar. No dormitório cabiam exatamente as três camas de ferro
forjado que a gente tinha. Numa, dormia meu pai; na outra, meus três
irmãos maiores; e na terceira, meu irmão Marcelino e eu.
Eu,
virada para a cabeceira; ele, para o pé da cama.
Do
maior para o menor, os nomes de meus irmãos eram Mariano, Mirto,
Manuel e Marcelino. O meu é Maria Margarita. Como já devem ter
percebido, meu pai tinha uma fixação por nomes que começavam com
eme. Isso, desde que, segundo ouvi ele mesmo contar certa vez,
percebeu que, além dele se chamar Medardo, sua mãe se chamava
Martina e seu pai, Magno.
Hoje,
acho que a única razão que fez meu pai se casar com minha mãe foi
ela se chamar Maria Magnólia. É que eles não tinham afinidade
alguma, não se pareciam em nada. Eram feito água e óleo. Além do
mais, meu pai tinha uma diferença de vinte e cinco anos a mais do
que ela.
“Era
assim que se usava antigamente no campo”, ouvi minha mãe dizer,
num suspiro de desencanto, quando uma vizinha achou estranho aquele
contraste de idades.
Hernán Rivera Letelier, in A Contadora de Filmes
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