sexta-feira, 26 de janeiro de 2024

Os Nascimentos | 1524 – Tuxkahá

Cuauhtémoc

Do galho de uma antiga ceiba balança, pendurado pelos tornozelos, o corpo do último rei dos astecas.
Cortez cortou-lhe a cabeça.
Tinha vindo ao mundo em berço rodeado de escudos e dardos, e estes foram os primeiros ruídos que ouviu:
Tua própria terra é outra. À outra terra estás prometido. Teu verdadeiro lugar é o campo de batalha. Teu ofício é dar de beber ao sol com o sangue de teu inimigo e dar de comer à terra com o corpo de teu inimigo.
Há vinte e nove anos, os magos derramaram água sobre sua cabeça e pronunciaram as palavras do ritual:
Em que lugar te escondes, desgraça? Em que membro te ocultas? Afaste-se deste menino!
Chamaram-no Cuauhtémoc, águia que cai. Seu pai tinha estendido o império de mar a mar. Quando o príncipe chegou ao trono, os invasores já tinham vindo e vencido. Cuauhtémoc ergueu-se em armas e resistiu. Foi o chefe dos bravos. Quatro anos depois da derrota de Tenochtitlán, ainda ressoam, do fundo da selva, os cantares que clamam pela volta do guerreiro.
Quem balança, agora, seu corpo mutilado? O vento ou a ceiba? Não é a ceiba quem o acalanta, de sua vasta copa? Não aceita a ceiba este galho partido, como um braço a mais entre os mil que nascem de seu tronco majestoso? Brotarão deste galho flores vermelhas?
A vida continua. A vida e a morte continuam.

Eduardo Galeano, in Os Nascimentos

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