Cuauhtémoc
Do
galho de uma antiga ceiba balança, pendurado pelos tornozelos, o
corpo do último rei dos astecas.
Cortez
cortou-lhe a cabeça.
Tinha
vindo ao mundo em berço rodeado de escudos e dardos, e estes foram
os primeiros ruídos que ouviu:
– Tua
própria terra é outra. À outra terra estás prometido. Teu
verdadeiro lugar é o campo de batalha. Teu ofício é dar de beber
ao sol com o sangue de teu inimigo e dar de comer à terra com o
corpo de teu inimigo.
Há
vinte e nove anos, os magos derramaram água sobre sua cabeça e
pronunciaram as palavras do ritual:
– Em
que lugar te escondes, desgraça? Em que membro te ocultas? Afaste-se
deste menino!
Chamaram-no
Cuauhtémoc, águia que cai. Seu pai tinha estendido o império
de mar a mar. Quando o príncipe chegou ao trono, os invasores já
tinham vindo e vencido. Cuauhtémoc ergueu-se em armas e resistiu.
Foi o chefe dos bravos. Quatro anos depois da derrota de
Tenochtitlán, ainda ressoam, do fundo da selva, os cantares que
clamam pela volta do guerreiro.
Quem
balança, agora, seu corpo mutilado? O vento ou a ceiba? Não é a
ceiba quem o acalanta, de sua vasta copa? Não aceita a ceiba este
galho partido, como um braço a mais entre os mil que nascem de seu
tronco majestoso? Brotarão deste galho flores vermelhas?
A
vida continua. A vida e a morte continuam.
Eduardo Galeano, in Os Nascimentos
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