sexta-feira, 15 de dezembro de 2023

Ombro

Se triste é ir para o colégio distante,
fica mais triste ainda
ao ver Sebastião Ramos chorando no ombro de meu pai:
Estou perdido! Nunca mais levanto!
A quebra dessa casa é a minha morte”.
O fragor do trem martela seu desespero,
ou seu desespero rilha nos trilhos
e, na caldeira, queima?
Ei, Sebastião Ramos, faz assim não na minha frente!
Também estou perdido: morte no internato.
Morrer vivo o ano inteiro é mais morrer
embora ninguém perceba
e ficarei sem ombro
para acalentar a minha morte.
Ó Sebastião Ramos, você roubou meu ombro.

Carlos Drummond de Andrade, in Boitempo – Esquecer para lembrar

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