Assim,
lá estava eu sentado batendo poemas e enviando-os às pequenas
revistas. Por algum motivo, o conto não estava chegando à máquina,
e eu não gostava disso, mas não podia forçá-lo, e portanto ficava
ali brincando com o poema. Era minha liberação e minha festa.
Talvez o conto voltasse um dia. Os cavalinhos corriam, o vinho ainda
rolava, e Sarah fazia um belo trabalho no jardim.
Não
tive notícias de Jon durante uma semana, mais ou menos, e aí, uma
noite, o telefone tocou.
– Sabe
aquele novo produtor pra quem conseguimos a liberação dada por
Blackford?
– Sim,
ele está pronto pra começar?
– Recuou.
Diz que não quer fazer o filme.
– Por
quê?
– Disse
que enquanto esperava os papéis de liberação lhe ofereceram outra
propriedade que ele prefere. Um argumento sobre dois órfãos gêmeos
que conquistam o Campeonato Mundial de Duplas de Tênis.
– Parece
sensacional. Eu gostaria de ter pensado nisso.
– Mas
tem boas notícias também.
– Como,
por exemplo?
– A
Firepower decidiu ir em frente com o filme.
– Quê?
Por quê?
– Acho
que ficaram com medo de que ninguém mais faça. Acho que eles
farejam grana no negócio. Afinal, o orçamento foi reduzido aos
ossos. Todo mundo aceitou um corte. E isso foi obra deles, a obra de
arte deles. Não creio que queiram que outros se beneficiem com isso.
Harry Friedman me ligou. “Eu quero aquela porra daquele filme”,
disse. “Tudo certo”, respondi, “você ganhou.” “E se esse
filme não faturar, eu pessoalmente corto todos os seus dedos!”
– Então
estamos em marcha de novo?
– Em
marcha de novo.
Aí,
três ou quatro noites depois, o telefone tocou. Era Jon.
– Tudo
bem se eu for aí? Tem uma coisa que a gente precisa conversar.
– Claro,
Jon…
Trinta
minutos depois, ele estava na porta. A garrafa e os copos esperavam
na mesinha de café.
– Entra,
Jon...
– Onde
está Sarah?
– Aula
de arte dramática.
– Oh...
Jon
rodou pela sala e encontrou seu lugar favorito junto à lareira.
Enchi o seu copo.
– Tudo
bem, diga lá.
– Bem,
a gente está pronto pra começar a rodar o cronograma estabelecido.
Aí Francine Bowers, que está em Boston, cai doente. Precisa fazer
uma operação. Não ficará boa antes de duas semanas.
– E
agora?
– Filmamos
as cenas sem ela. Filmamos Jack Bledsoe, tudo mais. Filmamos ela no
fim. A gente se prepara pra filmar a primeira cena com Jack e ele se
recusa!
– Por
quê?
– Exige
um Rolls-Royce conversível pra trazer ele pro set, senão não
trabalha.
– Como
diabos pode ele fazer isso?
– Está
no contrato. A gente encontra um Rolls pra ele. Não adianta. Não é
da cor que ele quer. Filmamos algumas cenas sem ele nem Francine. Aí
encontramos o Rolls da cor certa e Jack volta pronto pra trabalhar.
Encho
os copos outra vez.
– Ele
quer você lá olhando pra ele – disse Jon.
– Quê?
Ele não sabe que tenho de ir às corridas?
– Diz
que não tem corrida todo dia.
– Isso
é verdade.
– Escuta,
Hank, ele quer que você escreva uma cena só pra ele.
– Oh,
ééé?
– Quer
fazer uma cena diante de um espelho, quer dizer alguma coisa diante
de um espelho. Talvez um poema...
– Isso
pode pôr tudo a perder, Jon.
– Esses
atores às vezes são muito difíceis. Se ficam insatisfeitos no
início, podem matar o filme todo.
Lá
vou eu, pensei, vendendo meu rabo rio abaixo...
– Tudo
bem – eu disse. – Vou escrever o poema no espelho.
– Francine
também quer uma cena em que exiba as pernas. As pernas dela são
sensacionais, você sabe.
– Tudo
bem, eu escrevo a cena...
– Obrigado.
Você sabe, vai receber outro pagamento. Devia receber quando
começassem as filmagens, mas a Firepower suspendeu nossos
pagamentos. Mas vamos receber, e quando recebermos você recebe.
– Tudo
bem, Jon.
– Eu
gostaria que você viesse ver o bar e o hotel onde estamos filmando.
Estamos usando bêbados verdadeiros, sabe. Moram no tal hotel. Você
vai gostar deles.
– A
gente vai lá segunda-feira...
– Eu
tive uns probleminhas com Jack...
– Como?
– Ele
queria pegar uma cor, usar um chapeuzinho de feltro e um rabo de
cavalo...
– Eu
não acredito...
– É
verdade. Levei horas pra convencer ele. E veja o que ele queria usar
no filme!
Jon
meteu a mão em sua valise e puxou uns óculos escuros. Colocou-os.
Eram imensos. E a armação tinha a forma de palmeiras verdes, de
plástico.
– Esse
cara tá maluco? – perguntei. – Nenhum homem no estado da
Califórnia usaria uma coisa dessas.
– Eu
disse a ele. Ele insistiu pra usar os óculos num momento qualquer do
filme, mesmo por um instante. “SE FOR DE OUTRO JEITO”, gritou pra
mim, “VOCÊ VAI ME CORTAR OS BAGOS FORA!”
– Bem
– eu disse. – Eu não quero cortar os bagos dele fora. Vou bolar
uma cena em algum ponto onde ele possa pôr os óculos.
– Você
manda esse material pra mim assim que escrever?
– Vou
fazer isso esta noite.
Servi
outra rodada de drinques.
– Como
está François?
– Sabe
aqueles 60 mil que enfiou no buraco naquela roleta em que joga?
– Sei.
– Bem,
ele se safou. Agora está ganhando seis mil e é um sujeito muito
mais feliz.
– Ótimo.
Três
coisas o homem precisa: fé, prática e sorte.
Charles Bukowski, in Hollywood
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