Tenho
saudade de mim mesmo,
saudade
sob aparência de remorso,
de
tanto que não fui, a sós, a esmo,
e
de minha alta ausência em meu redor.
Tenho
horror, tenho pena de mim mesmo
e
tenho muitos outros sentimentos
violentos.
Mas se esquivam no inventário,
e
meu amor é triste como é vário,
e
sendo vário é um só. Tenho carinho
por
toda perda minha na corrente
que
de mortos a vivos me carreia
e
a mortos restitui o que era deles
mas
em mim se guardava. A estrela-d’alva
penetra
longamente seu espinho
(e
cinco espinhos são) na minha mão.
Carlos Drummond de Andrade, in Fazendeiro do ar
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