sexta-feira, 17 de novembro de 2023

1521 – Tenochtitlán

O mundo está calado e chove

De repente, de um só golpe, acabam-se os gritos e os tambores. Homens e deuses foram derrotados. Mortos os deuses, morreu o tempo. Mortos os homens, a cidade morreu. Morreu em sua lei esta cidade de guerra, a dos salgueiros brancos e brancos juncos. Já não virão para render-lhe tributo, em barcas através da névoa, os príncipes vencidos de todas as comarcas.
Reina um silêncio que atordoa. E chove. O céu relampagueia e troa e durante toda a noite chove.
Se empilha o ouro em grandes cestas. Ouro dos escudos e das insígnias de guerra, ouro das máscaras dos deuses, penduricalhos de lábios e orelhas. Pesa-se o ouro e cotizam-se os prisioneiros. De um pobre é o preço, apenas, dois punhados de milho... Os soldados armam rodas de dados e baralhos.
O fogo vai queimando as plantas dos pés do imperador Cuauhtémoc, untadas de azeite, enquanto o mundo está calado e chove.

Eduardo Galeano, in Os Nascimentos

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