Um
dos melhores grupos surgidos no rock brasileiro dos anos 1980, os
Paralamas do Sucesso começaram a se diferenciar de seus
contemporâneos graças a seu terceiro álbum, Selvagem?, de
1986, que tinha como faixa de abertura “Alagados”, uma crônica
social de como vivia (e ainda vive) parte da população carente no
Brasil. Assinada por Herbert Vianna (1961), Bi Ribeiro (1961) e João
Barone (1962), esta música também funcionou como uma carta de
intenções da nova fase do trio, depois de um início fortemente
influenciado pelo rock-reggae do Police. A letra avançava além das
questões existenciais adolescentes e urbanas de seu grande sucesso
anterior, “Óculos”, e, musicalmente, promovia uma perfeita
integração do rock com ritmos dançantes do Terceiro Mundo, onde
muitos vivem misérias semelhantes.
No
estúdio caseiro montado no apartamento da avó de Bi, começaram a
preparar o repertório de Selvagem?, dispostos a se descolar
da marcante influência do Police, adicionando ao seu reggae branco a
pulsação do dub jamaicano, novos ritmos dançantes de Salvador e
muito afropop contemporâneo.
A
partir de levadas do baixo e riffs de guitarra, eles apostavam
nos grooves, formatando cada composição antes de pensar nas letras,
que tiveram que se integrar ao ritmo e ao clima musical. A inspiração
para “Alagados” foi a memória de Herbert de seu breve período
de estudante de Arquitetura na Ilha do Fundão, quando passava
diariamente em frente à Favela da Maré, uma paisagem degradada
semelhante à das palafitas de Alagados, em Salvador, ou da cidade
jamaicana de Trenchtown, ambas citadas no refrão da música, gravada
num dueto vocal com Gilberto Gil.
A
temática social e a sonoridade diferenciada para os padrões da
época deram um upgrade aos Paralamas, como a perfeita fusão do rock
com ritmos brasileiros, africanos e caribenhos, que, na década
seguinte, influenciaria o trabalho de grupos como Chico Science &
Nação Zumbi, Mundo Livre SA, Skank e O Rappa.
Nelson Motta, in 101 canções que tocaram o Brasil
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