A
distribuição da riqueza
Murmura-se
e luta-se no acampamento dos espanhóis. Os soldados não têm mais
remédio que entregar as barras de ouro salvas do desastre. Quem
esconda algo, será enforcado.
As
barras provêm das obras dos ourives e dos escultores do México.
Antes de converter-se em presa de guerra e fundir-se em lingotes,
este ouro foi serpente a ponto de morder, tigre a ponto de saltar,
águia a ponto de voar ou punhal que serpenteia e corre como Cortez
explica que este ouro não é mais que gotinhas comparado com o que
os espera. Retira a quinta parte para o rei, outra quinta parte para
ele, mais o que cabe ao seu pai e ao cavalo que morreu, e entrega aos
capitães quase todo o resto. Pouco ou nada recebem os soldados, que
lamberam este ouro, o morderam, o pesaram na palma da mão, dormiram
com ele debaixo da cabeça e contaram a ele seus sonhos de vingança.
Enquanto
isso, o ferro em brasa marca a cara dos escravos índios
recém-capturados em Tepeaca e Huaquechula.
O
ar cheira à carne queimada.
Eduardo Galeano, in Os Nascimentos
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