Lançada
pelo Barão Vermelho em 1983, “Pro dia nascer feliz” dormia
esquecida no segundo disco do grupo carioca até, meses depois,
chegar às rádios a sensacional versão de Ney Matogrosso. Grande
amigo de Cazuza, Ney tinha ouvido a canção numa fita, antes de a
gravação do Barão chegar ao mercado, e insistiu para regravá-la
no álbum …pois é, que saiu no fim do ano.
O
impacto nas rádios deste rock cru, de letra hedonista, na voz de Ney
foi tão forte que despertou o interesse de alguns programadores pela
versão original do Barão. Relançada em single pela Som
Livre, essa gravação, mais rascante e suja, também começou a ter
grande execução, chamando atenção para a nova banda e dando o
primeiro de muitos hits à dupla Frejat e Cazuza.
Rebelde
e amoroso, sensível e debochado, cronista agudo de seu tempo,
falando de sexo e drogas com uma linguagem original em que amores
adolescentes do rock se cruzam com dramas passionais do samba-canção,
Cazuza (Agenor Miranda de Araújo Neto, 1958-1990) encontrou em
Roberto Frejat (1962) o parceiro ideal. O guitarrista encharcou de
rock e blues aquelas crônicas cariocas de uma vida sem rédeas,
levada às últimas consequências, como celebraram em “Pro dia
nascer feliz”, autorretrato do artista como um assumido vagabundo
em busca do prazer, “nadando contra a corrente só para exercitar /
todo o músculo que sente” e sempre querendo mais.
Influenciados
pelos Rolling Stones, e incentivados pelo produtor Ezequiel Neves,
eles se tornaram os Jagger & Richards do rock brasileiro. Durante
cerca de quatro anos, os dois produziram muito, emplacando vários
sucessos, como “Bete Balanço”, “Por que que a gente é assim?”
e “Todo amor que houver nessa vida”, até Cazuza sair para a
carreira solo em 1985.
Nelson Motta, in 101 canções que tocaram o Brasil
Nenhum comentário:
Postar um comentário