As
crianças já nascem sabendo. Quando elas, através da educação,
são transformadas em seres úteis, o Paraíso lhes é roubado: são
obrigadas a se esquecer do brinquedo e a viver no mundo do trabalho.
Recuperar
a sapientia é lembrar-se da “filosofia” sem palavras que
morava no corpo da criança. Nietzsche escrevia a fim de preparar o
caminho para a volta da criança. O seu “homem-transbordante”
(Übermensch) é uma criança. “Num homem real”, ele
dizia, “se esconde uma criança... que deseja brincar...”. Por
oposição ao propósito utilitário de transformar as crianças em
ferramentas (todo profissional é uma ferramenta), ele dizia: “A
maturidade de um homem é encontrar de novo a seriedade que se tinha
quando criança, brincando”. A companhia dos homens acadêmicos,
sérios e pretensamente úteis, lhe fazia mal. Ele preferia a
companhia das crianças.
“Gosto
de me assentar aqui onde as crianças brincam, ao lado da parede em
ruínas, entre os espinhos e as papoulas vermelhas. Para as crianças
eu sou ainda um sábio, e também para os espinhos e as papoulas
vermelhas.” (Nietzche, in Assim falou Zaratustra).
Rubem Alves, in Variações sobre o prazer
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