CIA
DAS LETRAS - INT./DIA
O
assessor de imprensa está reunido com o pessoal da editora.
ASSESSOR
Eu pensei numa estratégia de divulgação pro livro. A ideia é
bombar a figura do Leminski na mídia. Levar ele pra fazer Jô,
Luciana Gimenez, Amaury Jr…
EDITORA
Não, você não entendeu.
ASSESSOR
Ah, ele não faz Rede TV? Tudo bem. A gente foca mais nas revistas.
Põe ele pra dar entrevista pro pessoal jovem que não conhece ele:
Todateen, Capricho… A Capricho acabou?
EDITOR
Não, por favor.
ASSESSOR
Não? Ótimo. A gente põe ele de capa da Capricho. Ele topa
sem camisa?
EDITOR
Olha, acho difícil, porque ele morreu.
ASSESSOR
Para, gente. Sério?
EDITORA
Sério.
ASSESSOR
É, isso muda um pouco as coisas.
EDITORA
Muda.
ASSESSOR
Tem certeza que ele morreu? Tem artista que a gente acha que morreu e
quando vai ver não morreu, tá numa novela da Record, ou na Fazenda.
EDITOR
Não, acho que ele não tá na Fazenda.
ASSESSOR
Se tivesse, pra mim era mais fácil. Bom, vamos ter que diversificar
a estratégia. O livro é sobre o quê?
EDITORA
São quatro biografias, do Bashô, Jesus Cristo, Cruz e Sousa e
Trótski.
ASSESSOR
Alguma dessas pessoas tá viva?
EDITORA
Não.
ASSESSOR
E qual é o nome do livro?
EDITORA
Vida.
ASSESSOR
Irônico, né? (ele explica a piada) Irônico o livro de uma
pessoa que morreu sobre quatro pessoas que também morreram se chamar
Vida.
EDITOR
Sim, a gente já tinha entendido.
ASSESSOR
A gente pode repensar esse título? Pensar em alguma coisa mais pra:
Biografias não autorizadas de Jesus e companhia? Ou: Jesus
era de esquerda? Ou: Manual da liderança através dos
ensinamentos de Jesus? Acho que a gente tinha que focar em Jesus.
Desses aí que vocês falaram aí é quem mais tem mídia.
Gregório Duvivier, in Put some farofa
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