Cruviana (2019), de Will Cavalcante
Respinga mistérios na tela da noite,
Subindo a cortina pintada em poeira
Que envolve a ladeira na força do acoite.
Os galhos se curvam perante a lapada
Que faz a latada tremer no empurrão
Do braço do vento que limpa o terreiro
Enquanto o cardeiro se agarra no chão.
E quando a madrugada desponta enlutada
Chegando velada do brilho da lua,
O vento modera seu sopro assombrado
Seguindo calado no palco que atua.
As frestas e furos são vias de entrada
Do frio na morada de ralas paredes,
Com cama de palha suspensa em forquilhas
E os filhos e filhas no colo das redes.
Um vento macio, sedoso e gelado
Deslisa curvado que nem cascavel,
Fazendo carícias na face da terra
No tronco da serra coberta de véu.
O seco sertão esfria o torrão
E a névoa no chão cercando a choupana
Pincela a paisagem da noite morrendo
E o dia nascendo pela cruviana.
Robson Renato, in Xique-xique – O Sertão em Poesia
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