No
dia infindável,
no
centenário banco de farmácia,
discutem
passarinho
como
se fosse polícia municipal.
Carece
discutir alguma coisa,
senão
o tempo vira mármore
gelado
e
todas as pessoas viram mármore
roído,
desbotado; de jazigo.
Discute-se
a vária cor do sabiá,
o
voo particular do sabiá,
o
canto divino do sabiá,
superior
à flauta de Lilingue.
Protesta
Lilingue,
retira-se,
flautista indignado.
Silêncio
de sem-jeito.
Seu
Paulinho Apóstolo rompe o mal-estar:
— De
todos os sabiás da redondeza
(e
abrange, mãos em concha, o orbe terráqueo),
desde
o coleira ao laranjeira,
o
que eu destaco pela melodia,
que
é dom de Deus, sei lá, de anjos cantores,
é
o sabiacica.
Todos
se erguem, estupefatos:
— Mas
não é sabiá! É papagaio!
Só
imita sabiá, o porcaria!
Seu
Paulinho Apóstolo sorri
de
tamanha besteira:
— Bobagem
de vocês, o sabiá
é
que vive imitando sabiacica.
Carlos Drummond de Andrade, in Boitempo – Esquecer para lembrar
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