Ao
estrear, no fim dos anos 1960, Luiz Gonzaga Júnior tinha toda a
pinta de bad boy. Magrelo, barbado e durão, ele era um dos
pontas de lança do carrancudo até no nome MAU (Movimento Artístico
Universitário), criado em 1969 e que reuniu outros jovens
compositores também em início de carreira, como Ivan Lins, Aldir
Blanc, César Costa Filho e Paulo Emílio.
Mas,
quando morreu em 1991, aos 45 anos, num desastre de automóvel no
interior do Paraná, ele já tinha mostrado seu lado mais doce e
amoroso, o perfil já era outro, justificando o carinhoso apelido de
Gonzaguinha, consagrado por duas dezenas de sucessos populares
lançados a partir do fim dos anos 1970 por intérpretes como Maria
Bethânia, Elis Regina, Nana Caymmi, Marlene, Simone, Zizi Possi,
Frenéticas, Fagner e Joanna. Entre eles e um dos maiores, “Explode
coração (Não dá mais pra segurar)”, lançado em 1978 por Maria
Bethânia com um estrondoso sucesso popular, tornou-se ao longo dos
anos um dos grandes clássicos românticos brasileiros.
Gonzaguinha
nasceu no Rio de Janeiro, em 22 de setembro de 1945, e mostrou
talento cedo, compondo suas primeiras músicas na adolescência. Em
1967, teve duas canções gravadas pelo pai, Luiz Gonzaga, “Festa”
e “From US of Piauí”, e um ano depois o então estudante de
Economia se classificou entre os finalistas no I Festival
Universitário de Música Popular, com “Pobreza por pobreza”, um
tema de denúncia social, que marcaria seu estilo inicial.
Em
1969, na segunda edição do mesmo festival, foi o vencedor com a
complexa “O trem”, com harmonias audaciosas e letra contundente e
sarcástica. Em plena era de chumbo da ditadura militar, o protesto
era a sua vertente principal e o tornou um alvo preferencial da
Censura. Para conseguir gravar seus dois primeiros álbuns solo, em
1973 e 1974, teve que submeter aos censores dezenas de canções, a
maioria vetadas, até conseguir doze para cada disco. Na época
chegou a ser chamado de cantor-rancor, pelo tom sempre revoltado de
suas músicas.
Seu
quarto álbum, em 1976, já anunciava no título uma nova fase:
Começaria tudo outra vez. Os boleros românticos que ouviu na
infância começavam a ganhar espaço em seus discos junto a canções
melodiosas de alta voltagem emocional sobre as graças e desgraças
do amor, que passaram a ser disputadas pelos grandes intérpretes da
MPB.
Como
a audaciosa “Grito de alerta”, de espírito gay, gravada por
Agnaldo Timóteo no LP A galeria do amor, no caso, a Alasca,
tradicional ponto gay de Copacabana:
“Na
galeria do amor é assim / Muita gente à procura de gente / A
galeria do amor é assim / Um lugar de emoções diferentes.”
“Explode
coração” foi lançada por Maria Bethânia no álbum Álibi,
o primeiro de uma cantora brasileira a ultrapassar a marca de um
milhão de cópias vendidas, explodindo corações em todo o país.
Não dava para segurar mesmo.
Nelson Motta, in 101 canções que tocaram o Brasil
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