terça-feira, 4 de julho de 2023

Explode coração (Não dá mais pra segurar) | Gonzaguinha, 1979


Ao estrear, no fim dos anos 1960, Luiz Gonzaga Júnior tinha toda a pinta de bad boy. Magrelo, barbado e durão, ele era um dos pontas de lança do carrancudo até no nome MAU (Movimento Artístico Universitário), criado em 1969 e que reuniu outros jovens compositores também em início de carreira, como Ivan Lins, Aldir Blanc, César Costa Filho e Paulo Emílio.
Mas, quando morreu em 1991, aos 45 anos, num desastre de automóvel no interior do Paraná, ele já tinha mostrado seu lado mais doce e amoroso, o perfil já era outro, justificando o carinhoso apelido de Gonzaguinha, consagrado por duas dezenas de sucessos populares lançados a partir do fim dos anos 1970 por intérpretes como Maria Bethânia, Elis Regina, Nana Caymmi, Marlene, Simone, Zizi Possi, Frenéticas, Fagner e Joanna. Entre eles e um dos maiores, “Explode coração (Não dá mais pra segurar)”, lançado em 1978 por Maria Bethânia com um estrondoso sucesso popular, tornou-se ao longo dos anos um dos grandes clássicos românticos brasileiros.
Gonzaguinha nasceu no Rio de Janeiro, em 22 de setembro de 1945, e mostrou talento cedo, compondo suas primeiras músicas na adolescência. Em 1967, teve duas canções gravadas pelo pai, Luiz Gonzaga, “Festa” e “From US of Piauí”, e um ano depois o então estudante de Economia se classificou entre os finalistas no I Festival Universitário de Música Popular, com “Pobreza por pobreza”, um tema de denúncia social, que marcaria seu estilo inicial.
Em 1969, na segunda edição do mesmo festival, foi o vencedor com a complexa “O trem”, com harmonias audaciosas e letra contundente e sarcástica. Em plena era de chumbo da ditadura militar, o protesto era a sua vertente principal e o tornou um alvo preferencial da Censura. Para conseguir gravar seus dois primeiros álbuns solo, em 1973 e 1974, teve que submeter aos censores dezenas de canções, a maioria vetadas, até conseguir doze para cada disco. Na época chegou a ser chamado de cantor-rancor, pelo tom sempre revoltado de suas músicas.
Seu quarto álbum, em 1976, já anunciava no título uma nova fase: Começaria tudo outra vez. Os boleros românticos que ouviu na infância começavam a ganhar espaço em seus discos junto a canções melodiosas de alta voltagem emocional sobre as graças e desgraças do amor, que passaram a ser disputadas pelos grandes intérpretes da MPB.
Como a audaciosa “Grito de alerta”, de espírito gay, gravada por Agnaldo Timóteo no LP A galeria do amor, no caso, a Alasca, tradicional ponto gay de Copacabana:
Na galeria do amor é assim / Muita gente à procura de gente / A galeria do amor é assim / Um lugar de emoções diferentes.”
Explode coração” foi lançada por Maria Bethânia no álbum Álibi, o primeiro de uma cantora brasileira a ultrapassar a marca de um milhão de cópias vendidas, explodindo corações em todo o país. Não dava para segurar mesmo.

Nelson Motta, in 101 canções que tocaram o Brasil

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