Néctar
– Suco doce que muitas flores contêm e que os insetos buscam com
avidez.
Pistilo
– Órgão feminino da flor, que geralmente ocupa seu centro e
contém o rudimento da semente.
Pólen
– Pó fecundante, produzido nos estames e contido nas anteras.
Estame
– Órgão masculino da flor, composto pelo estilete e pela antera
na sua parte inferior em torno do pistilo que, como acima foi dito, é
o órgão feminino da flor.
Fecundação
– União de dois elementos de geração (masculino e feminino), da
qual resulta o fruto fértil.
Rosa
– É a flor feminina, dá-se toda e tanto que para ela própria só
resta a alegria de se ter dado. Seu perfume é de um mistério
feminino, se profundamente aspirada, toca no fundo do coração e
deixa o corpo todo perfumado. O modo de ela se abrir em mulher é
belíssimo. Suas pétalas têm um gosto bom na boca, é só
experimentar. As vermelhas ou as príncipe negro são de
grande sensualidade. As amarelas dão um alarme alegre. As brancas
são a paz. As cor-de-rosa são em geral mais carnudas e têm a cor
por excelência. As alaranjadas são sexualmente atraentes.
Cravo
– Tem uma agressividade que vem de certa irritação. São ásperas
e arrebitadas as pontas de suas pétalas. O perfume do cravo é de
algum modo mortal. Os cravos vermelhos berram em violenta beleza. Os
brancos lembram o pequeno caixão de criança defunta; seu cheiro
então se torna pungente.
Girassol
– É o grande filho do Sol, tanto que já nasce com o instinto de
virar sua enorme corola para o lado de sua mãe. Não importa se o
Sol é pai ou mãe, não sei. Será o girassol flor feminina ou
masculina? Acho masculina. Mas uma coisa é certa; o girassol é
russo, provavelmente ucraniano.
Violeta
– É introvertida, sua introspecção é profunda. Ela não se
esconde, como dizem, por modéstia. Ela se esconde para poder
entender o seu próprio segredo. O seu perfume é uma glória mas que
exige da pessoa uma busca: seu perfume diz o que não se pode dizer.
Um ramo de violetas equivale a “ama os outros como a ti mesmo”.
Sempre-viva
– É uma sempre morta. Sua secura tende à eternidade. Seu nome em
grego quer dizer sol de ouro.
Margarida
– É uma flor alegrezinha. É simples: só tem uma camada de
pétalas. Seu centro amarelo é uma brincadeira infantil.
Palma
– Não tem perfume. Ela se dá altivamente – pois é altiva –
em forma e cor. É francamente masculina.
Orquídea
– É formosa, é exquise e antipática. Não é espontânea.
Ela quer redoma. Mas é uma mulher esplendorosa, isto não se pode
negar. Também não se pode negar que é nobre; é epífita, isto é,
nasce sobre outra planta sem contudo tirar dela a sua nutrição.
Minto: adoro orquídeas.
Tulipa
– Só é tulipa quando em largo campo coberto delas, como na
Holanda. Uma única tulipa simplesmente não é.
Florzinha
dos trigais – Só dá no meio do trigo. Tem na sua humildade a
ousadia de se mostrar em diversas formas e cores. A flor do trigal é
bíblica. Na Espanha é usada para enfeitar os presépios, junto a
ramos de trigo, do qual jamais se separa.
Angélica
– Tem um perfume de capela. Traz êxtase místico. Lembra a hóstia.
Muitos
têm vontade de comê-la e encher a boca com o seu perfume intenso e
sagrado.
Jasmim
– É dos namorados: eles andam de mãos dadas balançando os
braços, e se dão beijinhos suaves, eu diria ao som odorante do
jasmim.
Estrelícia
– É masculina por excelência. Tem uma agressividade de amor e de
sadio orgulho. Parece ter crista de galo e, como o galo, tem o seu
canto, só que não espera pela aurora – quando se a vê realmente,
ela dá o seu grito visual de saudação ao mundo, que este é sempre
nascido.
Azaleia
– Há quem a chame de azaléa, mas prefiro mesmo azaleia. É
espiritual e leve; é uma flor feliz e que dá felicidade. Ela é
humildemente bela. As pessoas que se chamam Azaleia – como minha
amiga Azaleia – adquirem as qualidades da flor: é uma alegria pura
lidar com elas. Recebi de Azaleia muitas azaleias brancas que
perfumaram a sala toda.
Dama-da-noite
– Tem perfume de lua cheia. É fantasmagórica e um pouco
assustadora: só sai à noite, com seu cheiro embriagador,
misterioso, silente. É também das esquinas desertas e em trevas,
dos jardins de casas de luzes apagadas e janelas fechadas. É
perigosa.
Flor
de cactos – A flor de cactos é suculenta, às vezes grande,
cheirosa e de cor brilhante: vermelha, amarela e branca. É a
vingança sumarenta que ela faz para a planta desértica: é o
esplendor nascendo da esterilidade despótica.
Edelvais
– Encontra-se apenas nas grandes alturas, embora nunca acima de
3.400 metros de altitude. Essa Rainha dos Alpes, como também é
chamada, é o símbolo da conquista do homem. É branca e lanosa.
Raramente atingível: é uma aspiração humana.
Gerânio
– Flor de canteiro de janela na Suíça, em São Paulo, no Grajaú.
Tem o sarcófilo, isto é, folha suculenta, muito cheiroso.
Vitória-régia
– No Jardim Botânico do Rio há enormes, até quase dois metros de
diâmetro. Aquáticas, lindas de morrer. Elas são o Brasil grande.
Evoluentes: no primeiro dia brancas, depois rosadas ou mesmo
avermelhadas. Espalham grande tranquilidade. A um tempo majestosas e
simples. Apesar de viverem no nível das águas, elas dão sombra.
Clarice Lispector, in Todas as crônicas
Nenhum comentário:
Postar um comentário