Na
semana passada fui surpreendida por uma amiga de infância contando
que vai se casar no ano que vem. Ela namora aquele cara – que é
simpático e boa pessoa – há alguns anos, mas é nítido que não
há grandes indícios de paixão por ali. Eles me parecem felizes,
mas transmitem uma relação um pouco morna, excessivamente
tranquila.
A
princípio fiquei bem preocupada. Pensei que ela estava cometendo um
grande erro, que estava afundando sua vida antes dos 30 com a
formalização de uma relação sem sentido. Mas andei refletindo
melhor e começo a perceber que quem estava equivocada, no fundo, era
eu.
Nós
estabelecemos, nas últimas décadas, uma
forma-padrão-ideal-jovem-romântica-contemporânea do que deve ser
um relacionamento feliz, consolidada pelos amores fictícios
cinematográficos e reiterada pelos amores de Instagram. É uma
fórmula ousada e quase inatingível: tem que haver amor, tem que
haver paixão, tem que haver tesão, tem que haver cumplicidade, tem
que haver amizade, tem que haver liberdade, tem que haver parceria,
tem que haver humor, tem que haver um milhão de coisas.
De
certa forma, é fácil entender essa nossa reação, uma vez que
muitos dos nossos avós (e até alguns dos nossos pais) entraram em
casamentos de conveniência, sem sentimentos verdadeiros. Parte deles
até conseguiu desenvolver o afeto e o amor ao longo dos anos. Outros
não. E é exatamente desse tipo de relação que nós decidimos
fugir como o diabo foge da cruz.
Mas
começamos a reunir tantas exigências acerca de um relacionamento,
numa espécie de tudo ou nada, que nos tornamos eternamente
insatisfeitos. Sempre está faltando alguma coisa e nossa tolerância
está muito perto do zero. Parece, inclusive, que precisamos ser
aqueles casais impecáveis, felizes e bonitos para protagonizar belas
fotos para as redes sociais. Menos do que isso é fracasso.
Por
outro lado, tantas outras pessoas da nossa geração acabam por
simplesmente não se relacionar por ficarem eternamente aguardando
uma relação que não precise de retoques. São os dois tipos
frequentes de frustração: os que não encontram relacionamentos
ideais e os que não vivem amores perfeitos.
Os
relacionamentos não precisam caber todos num mesmo molde. O que é
preciso é que o casal esteja dançando a mesma música. Tem casal
para o qual a parceria é muito mais importante do que o tesão. Tem
casal para o qual o humor é muito mais importante do que a paixão.
Tem casal para o qual a liberdade é muito mais importante do que a
cumplicidade. Tudo pode funcionar, desde que funcione para ambos.
No
fundo, é realmente meio ridículo nós ficarmos julgando os
relacionamentos alheios através de critérios que são nossos. Cada
história é uma história e ponto. O que é importante para mim pode
não ser importante para aquela minha amiga. Não existe uma fórmula
universal para isso.
E
é um erro ainda maior ficarmos comparando todos esses
relacionamentos com aqueles que nos vendem como superverdadeiros e
que na realidade não passam de utopia, marketing ou fachada.
Relacionamentos não servem para postar, comparar, idealizar.
Relacionamentos servem para ser de verdade.
Ruth Manus, in Um dia ainda vamos rir de tudo isso
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