Há
três anos, o capitão Ponce de León chegou a esta ilha de Porto
Rico em uma caravela. O chefe Agüeynaba abriu-lhe sua casa,
ofereceu-lhe de comer e de beber, deu-lhe para escolher entre suas
filhas e mostrou-lhe os rios de onde tiravam ouro. Outro presente foi
seu nome. Juan Ponce de León passou a chamar-se Agüeynaba e
Agüeynaba recebeu, em troca, o nome do conquistador.
Há
três dias, o soldado Salcedo chegou, sozinho, na beira do rio
Guarauvo. Os índios ofereceram-lhe os ombros para passá-lo. Ao
chegar na metade do rio, deixaram-no cair e o esmagaram contra o
fundo até que deixou de agitar as pernas. Depois, estenderam-no na
erva.
Salcedo
é agora uma bolota de carne avermelhada e crispada. Rapidamente
apodrece ao sol, apertado pela armadura e acossado pelos bichos. Os
índios olham para ele, tapando o nariz. Dia e noite pediram-lhe
perdão, por via das dúvidas. Já não vale a pena. Os tambores
transmitem a boa nova: Os invasores não são imortais.
Amanhã,
estalará a sublevação. Agüeynaba a encabeçará. O chefe dos
rebeldes tornará a chamar-se como antes. Recuperará seu nome, que
foi usado para humilhar a sua gente.
– Co-quí,
co-quí – chamam as rãs. Os tambores, que convocam para a
luta, impedem que se escute seu cantado contraponto de cristais.
Eduardo Galeano, in Os Nascimentos
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