São
Jorge imenso espera o cavalo
que
ainda não foi arreado,
ainda
não foi raspado,
ainda
não foi escolhido
entre
os vinte melhores da redondeza.
São
Jorge fora de altar
(não
cabe nele)
espera
o dia da procissão
em
canto discreto da Matriz.
São
Jorge é meu espanto.
Ainda
não vi santo montado.
Santos
naturalmente andam a pé,
atravessam
rios a vau e a pé,
fazem
milagres a pé.
Usam
sandálias
de
luz e poeira como os deuses
da
gravura.
São
Jorge usa botas como os fazendeiros
de
minha terra.
E
não é fazendeiro. São botas de guerra.
São
Jorge mata o dragão. Mata os inimigos
de
Deus na bacia do Rio Doce?
Fica
longamente na penumbra
esperando
cavalo e procissão
só
um dia no ano: ele é São Jorge
mesmo.
No
mais, uma espera colossal.
Carlos Drummond de Andrade, in Boitempo – Esquecer para lembrar
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