Eu
canto porque o instante existe
e
a minha vida está completa.
Não
sou alegre nem sou triste:
sou
poeta.
Irmão
das coisas fugidias,
não
sinto gozo nem tormento.
Atravesso
noites e dias
no
vento.
Se
desmorono ou se edifico,
se
permaneço ou me desfaço,
— não
sei, não sei. Não sei se fico
ou
passo.
Sei
que canto. E a canção é tudo.
Tem
sangue eterno a asa ritmada.
E
um dia sei que estarei mudo:
— mais
nada.
Cecilia Meireles, in Antologia Poética
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