terça-feira, 30 de maio de 2023

Romaria | Renato Teixeira, 1977


Nos anos 1970, a música sertaneja vivia em um mundo à parte, era chamada de caipira e restrita ao interior de São Paulo, Minas e Goiás. Longe demais, portanto, do eixo Rio-São Paulo, no qual estavam os principais estúdios e emissoras de rádio e TV e vivia a constelação de astros da canção. Caso de Elis Regina, em 1977, ao lançar essa toada no álbum Elis.
Paulista de Taubaté, com fortes raízes sertanejas mas formado ao som da bossa nova e da MPB, Renato Teixeira de Oliveira (1945) ganhava a vida como compositor de jingles em São Paulo até conhecer o casal Elis Regina e César Camargo Mariano por intermédio de seu irmão, Roberto de Oliveira, na época produtor musical de Elis. Os dois perceberam de imediato o potencial daquela poderosa canção-prece, ao mesmo tempo de construção refinada e popular, com cheiro de terra e de mato, cantada por um sertanejo em sua jornada de fé a caminho de Aparecida do Norte:
Sou caipira pirapora, Nossa / Senhora de Aparecida / ilumina a mina escura e funda o trem da minha vida.”
Incluída num disco repleto de material inédito de pesos-pesados da MPB como Milton Nascimento e Fernando Brant, João Bosco e Aldir Blanc, Ivan Lins e Vitor Martins, “Romaria” roubou a missa. Tocou maciçamente em todo o Brasil, antecipando em quase duas décadas a febre sertaneja que se instalou nos anos 1990 e continua imperando no Brasil do século XXI.
O sucesso também serviu de cartão de visita para Renato Teixeira e, graças a “Romaria”, ele pôde trocar a publicidade pela dedicação de corpo e alma à música, tornando-se uma das maiores referências do melhor sertanejo, ao lado de Almir Sater, com quem realizou memoráveis discos e shows com um padrão de qualidade muito acima e além da vulgaridade do sertanejo-pop que veio depois.

Nelson Motta, in 101 canções que tocaram o Brasil

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