Nos
anos 1970, a música sertaneja vivia em um mundo à parte, era
chamada de caipira e restrita ao interior de São Paulo, Minas e
Goiás. Longe demais, portanto, do eixo Rio-São Paulo, no qual
estavam os principais estúdios e emissoras de rádio e TV e vivia a
constelação de astros da canção. Caso de Elis Regina, em 1977, ao
lançar essa toada no álbum Elis.
Paulista
de Taubaté, com fortes raízes sertanejas mas formado ao som da
bossa nova e da MPB, Renato Teixeira de Oliveira (1945) ganhava a
vida como compositor de jingles em São Paulo até conhecer o casal
Elis Regina e César Camargo Mariano por intermédio de seu irmão,
Roberto de Oliveira, na época produtor musical de Elis. Os dois
perceberam de imediato o potencial daquela poderosa canção-prece,
ao mesmo tempo de construção refinada e popular, com cheiro de
terra e de mato, cantada por um sertanejo em sua jornada de fé a
caminho de Aparecida do Norte:
“Sou
caipira pirapora, Nossa / Senhora de Aparecida / ilumina a mina
escura e funda o trem da minha vida.”
Incluída
num disco repleto de material inédito de pesos-pesados da MPB como
Milton Nascimento e Fernando Brant, João Bosco e Aldir Blanc, Ivan
Lins e Vitor Martins, “Romaria” roubou a missa. Tocou maciçamente
em todo o Brasil, antecipando em quase duas décadas a febre
sertaneja que se instalou nos anos 1990 e continua imperando no
Brasil do século XXI.
O
sucesso também serviu de cartão de visita para Renato Teixeira e,
graças a “Romaria”, ele pôde trocar a publicidade pela
dedicação de corpo e alma à música, tornando-se uma das maiores
referências do melhor sertanejo, ao lado de Almir Sater, com quem
realizou memoráveis discos e shows com um padrão de qualidade muito
acima e além da vulgaridade do sertanejo-pop que veio depois.
Nelson Motta, in 101 canções que tocaram o Brasil
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