Clássico
dos clássicos do mestre da Mangueira, “O mundo é um moinho”
veio ao mundo como a faixa de abertura de seu segundo álbum solo,
Cartola (Discos Marcus Pereira), em 1976. Então aos 67 anos,
ele tinha escrito esse samba-choro poucos meses antes de voltar ao
estúdio. Numa idade em que muita gente já caminhava para a
aposentadoria, o compositor mantinha acesa a chama da criação e,
nesse mesmo álbum, também lançou duas outras preciosidades até
então inéditas, “Minha” e “As rosas não falam”.
Um
ano após ser lançado pelo compositor, “O mundo é um moinho”
ganharia outra versão memorável, de Beth Carvalho, no disco Nos
botequins da vida (RCA). A partir daí, muitas gravações se
seguiram, até chegar ao roqueiro Cazuza, reafirmando a abrangência
da obra de Cartola. O encadeamento perfeito da melodia e dos versos
mostra um fino artesão da canção, garantindo lugar para “O mundo
é um moinho” em qualquer antologia da música brasileira.
Cartola
sempre negou que a letra tão íntima e emocionada fosse
autobiográfica ou confessional, como tantas de suas canções. Conta
que teria se inspirado em uma desilusão amorosa, mas de sua enteada,
filha de Dona Zica, para criar a letra. O tom é coloquial, como uma
conversa de alguém bastante sofrido e experiente alertando sua jovem
interlocutora sobre as mesquinharias do mundo, que, como um moinho,
pode triturar os seus sonhos e reduzir suas ilusões a pó.
Uma
curiosidade na gravação original de Cartola é a participação do
então iniciante Guinga. É dele o violão na marcante introdução,
ao lado da flauta de Altamiro Carrilho. Antes de se consagrar como
compositor, o então também dentista se alternava entre o
consultório e os palcos e os estúdios. Não é absurdo imaginar que
a experiência com o mangueirense influiu na opção de Guinga pela
música.
Nelson Motta, in 101 canções que tocaram o Brasil
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