domingo, 7 de maio de 2023

Conversa noturna

O mais triste do vento do deserto é que é um vento analfabeto — dizia um vento da cidade a uma tabuleta oscilante.
Não — rinchava a tabuleta —, o mais triste do vento do deserto é que ele não tem recordações.
Sempre sentimental, essa velha pintada... — pensou consigo o vento da cidade, passando adiante.
O vento da cidade era um pedante.
O lampião da esquina não dizia nada: ardia de febre.

Mário Quintana, in Caderno H

Nenhum comentário:

Postar um comentário