Tem
dez anos, é filho de um amigo, e nos encontramos na praia.
— Papai
me disse que o senhor tem muito passarinho...
— Só
tenho três.
— Tem
coleira?
— Tenho
um coleirinha.
— Virado?
— Virado.
— Muito
velho?
— Virado
há um ano.
— Canta?
— Uma
beleza.
— Manso?
— Canta
no dedo.
— O
senhor vende?
— Vendo.
— Quanto?
— Dez
contos. Pausa. Depois volta: — Só tem coleira?
— Tenho
um melro e um curió.
— É
melro mesmo ou é vira?
— É
quase do tamanho de uma graúna.
— Deixa
cocar a cabeça?
— Claro.
Come na mão...
— E
o curió?
— É
muito bom curió.
— Por
quanto o senhor vende?
— Dez
contos.
Pausa.
— Deixa
mais barato...
— Para
você, seis contos.
— Com
a gaiola?
— Sem
a gaiola.
Pausa.
— E
o melro?
— O
melro eu não vendo.
— Como
se chama?
— Brigitte.
— Uai,
é fêmea?
— Não.
Foi a empregada que botou o nome. Quando ela fala com ele, ele se
arrepia todo, fica todo despenteado, então ela diz que é Brigitte.
Pausa.
— O
coleira o senhor também deixa por seis contos?
— Deixo
por oito contos.
— Com
a gaiola?
— Sem
a gaiola.
Longa
pausa. Hesitação. A irmãzinha o chama de dentro d'água.
E,
antes de sair correndo, propõe, sem me encarar: — O senhor não me
dá um passarinho de presente, não?
Rubem Braga, in A traição das elegantes
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