Absorto,
ausente, está o prisioneiro sentado na entrada da casa de Cristóvão
Colombo. Tem grilhões de ferro nos tornozelos e as algemas agarram
seus pulsos.
Canabó
foi quem reduziu a cinzas o forte de Navidad, que o Almirante tinha
levantado quando descobriu a ilha de Haiti. Incendiou o forte e matou
seus ocupantes. E não só eles: nestes dois longos anos, castigou a
flechadas todo espanhol que encontrou na sua comarca da serra de
Cibao, por andar caçando ouro e gente.
Alonso
de Ojeda, veterano das guerras contra os mouros, foi visitá-lo em
plano de paz. Convidou-o a subir em seu cavalo e colocou-lhe essas
algemas de metal polido que lhe atam as mãos, dizendo que essas eram
as joias que usavam os reis de Castilha em seus bailes e festas.
Agora
o cacique Caonabó passa os dias sentado junto à porta, com o olhar
fixo na língua de luz que ao amanhecer invade o chão de terra e ao
entardecer, pouco a pouco, se retira. Não move uma pestana quando
Colombo passa por ali. Em compensação, quando aparece Ojeda, dá um
jeito de levantar-se e cumprimenta com uma reverência o único homem
que o venceu.
Eduardo Galeano, in Os Nascimentos
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