sábado, 4 de março de 2023

Poesia

Não é em todo mundo que a poesia bate forte. Em mim sempre bateu. Mas quando li Manoel de Barros, a poesia pulou de nível no meu peito. Passou a ocupar um lugar diferente de tudo. Leio Manoel de Barros com periodicidade, assim como quem vai ao dentista ou como quem faz revisão no carro. Transformou-se, mesmo, numa necessidade.
Cresci numa casa com um grande quintal, em formato de U. Meu universo partiu dali. Mas tive a sorte de ter uma família que nunca permitiu que eu acreditasse que o mundo era aquilo: o meu quintal, a minha casa, os meus medos, os meus problemas. Entendi logo que, para ser grande, era preciso ver além daquele quintal.
Entendi que meu olho precisaria gritar. Meu olho, minhas letras, minhas palavras. Entendi que meu grito poderia ser silenciado e que isso não poderia me fazer parar. Que hei de fazer quando meu grito for pouco? Quando meu grito for fraco e abafado? Talvez dormir, talvez chorar. Mas, acima de tudo, seguir gritando.

Ruth Manus, in Um dia ainda vamos rir de tudo isso

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