Não
é em todo mundo que a poesia bate forte. Em mim sempre bateu. Mas
quando li Manoel de Barros, a poesia pulou de nível no meu peito.
Passou a ocupar um lugar diferente de tudo. Leio Manoel de Barros com
periodicidade, assim como quem vai ao dentista ou como quem faz
revisão no carro. Transformou-se, mesmo, numa necessidade.
Cresci
numa casa com um grande quintal, em formato de U. Meu universo partiu
dali. Mas tive a sorte de ter uma família que nunca permitiu que eu
acreditasse que o mundo era aquilo: o meu quintal, a minha casa, os
meus medos, os meus problemas. Entendi logo que, para ser grande, era
preciso ver além daquele quintal.
Entendi
que meu olho precisaria gritar. Meu olho, minhas letras, minhas
palavras. Entendi que meu grito poderia ser silenciado e que isso não
poderia me fazer parar. Que hei de fazer quando meu grito for pouco?
Quando meu grito for fraco e abafado? Talvez dormir, talvez chorar.
Mas, acima de tudo, seguir gritando.
Ruth Manus, in Um dia ainda vamos rir de tudo isso
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