4
Quando
Jonstone me viu chegar às cinco da manhã seguinte, girou em sua
cadeira e sua cara e sua camisa ficaram da mesma cor. Mas não disse
nada. Não dei a mínima. Eu tinha ficado até as duas bebendo e
trepando com Betty. Inclinei-me para trás e fechei os olhos.
Às
sete Jonstone deu mais um giro. Todos os outros substitutos tinham
recebido serviço ou sido mandados a outros postos que precisavam de
ajuda.
— Isso
é tudo, Chinaski. Hoje não há nada para você. — Ficou olhando
para o meu rosto. Foda-se, eu não dava a mínima. Tudo o que eu
queria fazer era voltar para cama e dormir mais um pouco.
— Tudo
bem, Stone — eu disse.
Entre
os carteiros ele era conhecido como “O Stone”, mas eu era o único
que o chamava assim.
Fui
embora, dei a partida na lata velha e logo eu estava na cama com
Betty.
— Ah,
Hank! Que bom!
— Maravilha,
baby!
Grudei-me
àquele rabo quente e dormi em 45 segundos.
5
Mas
na manhã seguinte foi a mesma coisa:
— Isso
é tudo, Chinaski. Hoje não há nada para você.
Aquilo
seguiu por uma semana. Eu sentava lá, todas as manhãs, das cinco às
sete e não era pago. Meu nome foi até riscado das coletas noturnas.
Então
Bobby Hansen, um dos caras mais antigos — em tempo de serviço me
disse:
— Ele
fez isso comigo uma vez. Tentou me matar de fome.
— Não
dou a mínima. Não vou lamber as bolas dele. Ou dou o fora ou morro
de fome, tanto faz.
— Isso
não é necessário. Compareça ao Posto Prell todas as noites. Diga
ao supervisor que você não está recebendo serviço e pode ficar
como substituto de entregas especiais.
— Posso
fazer isso? Não contraria nenhuma regra?
— Eu
recebia um cheque a cada duas semanas.
— Obrigado,
Bobby.
6
Esqueci
a que horas o negócio começava. Seis ou sete da noite. Algo assim.
Tudo
o que você tinha de fazer era sentar com um punhado de cartas, pegar
o mapa das ruas e calcular o trajeto. Uma barbada. Todos os
motoristas levavam muito mais tempo do que o necessário para
calcular as rotas e eu jogava o jogo deles. Saía quando todos saíam
e voltava quando todos voltavam.
Depois
era só dar mais outra volta. Sobrava tempo para vadiar um pouco nos
cafés, folhear os jornais, me sentir decente. Sobrava tempo até
para o almoço. Sempre que queria tirar um dia de folga, eu tirava.
Numa das rotas havia uma jovem, grande, que recebia uma entrega
especial toda noite. Ela confeccionava vestidos sensuais e camisolas
e os usava. Você subia aquela escada íngreme lá pelas onze da
noite, tocava a campainha e fazia a entrega especial. Ela deixava
escapar um gemido, algo como “OOOOOOOOOOHHHH!”, e ficava ali
parada, perto, bem perto, e não o deixava ir embora enquanto não
tivesse lido tudo; depois diria:
— OOOOOooooh,
boa noite, MUITO obrigada!
— Isso
aí, dona — você diria na saída, o pau do tamanho de um touro.
Mas
aquilo não durou muito. A mensagem chegou pelo correio, depois de
uma semana e meia de liberdade:
“Prezado
sr. Chinaski:
O
senhor deve se apresentar ao Posto de Oakford imediatamente. Qualquer
forma de recusa estará sujeita a advertência ou demissão.
Superint.
A. E. Jonstone, Posto de Oakford.”
Mais
uma vez eu voltava à minha cruz.
Charles Bukowski, in Cartas na Rua
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