“Carlos
acordou e fritou um ovo.” — Anônimo
“N’aquele
outomno de 1875, Carlos abriu as pálpebras esguedelhadas — tinha
acordado macilento. Trazia-lhe tranquillidade contar as dezoito velas
do lustre de ouro, presenteado pelo tio Affonso havia trinta e dois
anos. ‘Somente para dar-me esse lustre serviu o tio Affonso’,
pensou. Levantou-se da cama com uma fadiga langorosa, arrastando
consigo os lençóis de seda indiana e esticou-se num fato de
xadrezinho inglês. Cobriu-se com um cache-nez de seda clara e abriu
um telegramma, indolente e poseur, em frente ao espelho de Veneza —
resvalava, através das árvores, uma luz esverdinhada. Ordenou à
criada:
— Frite-me
ovos.” — Eça de Queiroz
“Carlos
acordou com uma súbita vontade de fritar um ovo, hei de fritar um
ovo, pensou, agora mesmo, posto que se não fritá-lo, não poderei
comê-lo frito, e terei de me contentar com ele cru, o que não seria
do meu agrado. Tendo pensado nisso, fritou o ovo, e não está ruim,
pensou, o ovo, frito.” — José Saramago
“Acordei
libertado da angústia de não estar acordado. Não estar acordado é
enorme: viver é isso. Fritei um ovo.” — Clarice Lispector
“Sonado:
Carlos abriu o olho. Bisbilhava-se. A galinha desovou um ovo, disse
Migué.
— Larga
de afoiteza, gritou tio Janjório. É muita ambicionice comer a
galinha que ainda não galinhou.
Carlos
nem orelhou. Quando o tio viu, o ovo já não era.” — Guimarães
Rosa
“Acordei
ao lado de Vânia, que ainda dormia. Seus seios eram rosados e sua
pentelheira era vasta e negra. Levantei e acendi um cigarro naquele
fogão de bacana. Na cozinha, Branca me esperava, nua, com uma Magnum
na mão, tapando-lhe a boceta. Eu disse alguma coisa e ela não
gostou. Apontou a arma para os meus testículos.
— Frita,
Carlos. Seus ovos vão ser a porra do meu café da manhã.
Alguém
bateu na porta. Era Frida, nua. Fodemos.” — Rubem Fonseca
“Carlos
acordou com a perna meia dormente. Para ficar com menas dor, recorreu
a uma simpatia. Foi até a cozinha e fez um ovo estralado.” —
Paulo Coelho
Gregório Duvivier, in Put some farofa
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