terça-feira, 7 de fevereiro de 2023

Não quero dinheiro (Só quero amar) | Tim Maia, 1971


No fim dos anos 1960, depois do AI-5 que endureceu a ditadura, a música brasileira estava em crise. A MPB parecia ter chegado a um impasse criativo, com os seus principais nomes (Caetano, Gil, Chico Buarque, Edu Lobo, Geraldo Vandré) fora do país. O Tropicalismo, que havia rachado a MPB em busca de liberdade e modernização pop, mas não chegou a ter sucesso popular, praticamente acabou com o exílio de Gilberto Gil e Caetano Veloso em Londres. O rock brasileiro, que nunca chegou a ser um movimento, se resumia aos casos isolados de Rita Lee, Raul Seixas e Mutantes. É nesse vazio que surge como um furacão Tim Maia.
Depois de cinco anos nos Estados Unidos, Sebastião Rodrigues Maia (1942-1998) voltou ao Brasil com 23 anos e uma grande novidade: a mistura explosiva do funk, do soul e do R&B americanos com ritmos nacionais – uma alquimia sonora que mudou os rumos da música brasileira, que ficou mais alegre, mais suingada, mais negra e mais romântica.
Em 1968, Tim emplacou seu primeiro sucesso, o funk raivoso “Não vou ficar”, que foi um marco na carreira de Roberto Carlos. Um ano depois, começou a se tornar conhecido nacionalmente por seu sensacional dueto com Elis Regina em “These Are the Songs”, em que fazia uma integração de soul e bossa nova. Até que, em 1970, foi contratado pela Philips para seu primeiro LP, um arrasa-quarteirão que se tornou o maior sucesso e a melhor novidade do ano, graças a hits como “Azul da cor do mar” e “Coroné Antônio Bento”, uma recriação de uma composição de João do Vale e Luiz Wanderley, como uma pioneira fusão de funk com xaxado.
Mas foi no seu segundo álbum, em 1971, que Tim Maia sedimentou de vez a sua original mistura. No repertório estava o clássico “Não quero dinheiro (Só quero amar)”, uma melodia construída sobre uma levada soul seca, que se desenvolve em uma sequência ascendente para desembocar no refrão irresistível, síntese de um novo gênero musical que conquistou imediato sucesso popular, influenciando as gerações que vieram depois.
Nos anos 1990 foi regravada com grande sucesso por Marisa Monte e Ivete Sangalo.

Nelson Motta, in 101 canções que tocaram o Brasil

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