Apesar
dos esforços da polícia civil, confortavelmente instalada em
cadeiras de lona à margem da pista (sem pretender chamá-los de
marginais), que interrompeu várias vezes o merecido sono e o estudo
d’0 favorito, e da pronta intervenção da FM, que suspendeu a
pelada e passou a prender a polícia civil - em que pesem o leitão e
as ameaças das comunidades de informações e dos mal-informados os
integrantes das escolas de samba se recusam a deixar a passarela da
Marquês de Sapucaí. Baterias emudecidas, estandartes abandonados,
passistas e cabrochas espiam, embasbacados, a badema que otoridades,
vips e vamps promovem (êpa!) nos camarotes.
O
cafetão internacional xeque Harum Al-Eskarrar presenteou o Dr.
Vidrado Deválium Dez, a “Marleide”, com a privada de ouro de
seus aposentos não menos privados. E ainda repleta de cocô, o que
dá mais colorido ao fato. Vidrado, destacado membro do Colégio de
Cirurgiões e da Penitenciária Lemos de Brito, declarou para a
posteridade: “Agora, quando eu quiser me suicidar, é só entrar no
vaso e puxar a válvula. Morrerei na merda, como a maioria dos
brasileiros, mas com um toque de distinção”.
No
camarote ao lado, um Marechal da comunidade dos incomunicáveis
ergueu sua taça: “Eu também como a grande maioria dos
brasileiros!”. Já o xeque Harum, com um delicioso sotaque baiano,
justificou seu rasgo de generosidade de forma singela: “Marleide
seleciono legal as puta, num sabe?”.
O
Troféu “Folião Mais Pitoresco” deverá ser concedido ao
impagável (tá cobrando muito caro) Delegado Luterinho Nazi,
elegantíssimo dentro do conjunto safári do recém-falecido
traficante Laurindo Tambatajá.
Completavam
o traje a inseparável tarrafa, chapéu de cortiça e rifle com mira
telescópica “pra atirar em pandeirista”, segundo o bem-humorado
agente da lei e da ordem. Luterinho, com charme e soco-inglês,
exigiu que os gatos e pardos só se referissem a ele como Buana Nazi,
o Grande Caçador Branco.
Cassandras
e pessimistas inveterados sofreram rude golpe com um tocante episódio
acontecido no camarote do industrial e contraventor (não
necessariamente nessa ordem) Urânio Pólio Falcatrua, o “Fuinha do
Alvoradão”.
Após
chupar uma meia dúzia de paus, a modelo internacional Fann Xonna
manifestou desejo de queimar um charo. Anfitrião impecável, Urânio
mandou seu ajudante-de-ordens, Bicheir-Major-Aero-Transportável
Aloísio Sagrado Coração, enrolar um de dois palmos. Consternados,
os dois homens de visão souberam, por alcagüetes, que o fumo
acabara logo após a passagem pelo camarote da comitiva das altas
esferas (só a esposa do Deputado Keres Barata Arreboque tem 1,80m e
pesa 115 quilos) políticas da situação. Informado a respeito do
impasse, um assessor da Secretaria de Iiiçeguranssa, lotado num
camarote próximo, cedeu maconha de sua própria capanga, Neuza
“Enfia-o-Dedo-e-Roda”, aos quilos. O gentil-homem não quis se
identificar, por estar sem documentos, e disse apenas que se chamava
Inspetor-pra-Viagem Clóvis Mascarado de Melindros Filho. O grande
Urânio agradeceu muito e prometeu pagar no Dia de São Nunca. “Quem
dá ao próximo, em festa, adeus!”, acrescentou o rafles carioca.
Caído
num terreno baldio das imediações, o cadáver do Juiz-Carregador
Mártir Telúrico dos Santos considerou o gesto de Clóvis Mascarado
inoportuno e de tendência criptocomunista. “Além do mais, ele
deveria ter cobrado na hora, em espécie. Não foi pra isso que
fizemos a Revolução.” O magistrado expressou-se em latim, por
considerar língua morta mais compatível com seu estado de
putrefação.
Uma
nota: dois bi foi quanto o jurista Beto Nem-Pensar pagou ao legista
Chicotinho Queimado para falsificar o atestado de óbito de sua
amante (dos dois) Tetê Fufu Nicols, parda, gaga, idade média. Tetê
faleceu do coração com seis tiros à queima-pele. Comenta-se que,
antes do ataque, Tetê estava nua, abraçada ao peru da ceia do
contínuo da cunhada da secretária do maítre do camarote de um
ministro desses aí. O jurista, que tava de olho no mesmo peru, matou
em defesa da honra, da farofa e dos miúdos.
Senhoras
de nossa melhor sociedade, Lívida do Grelo Maior, Odile de Piranhas
Margens Plácidas e a Condessa Lavanda de Prozz Tchittuta,
ministraram (ui!) verdadeira aula de Moral e Cívica nos Camarotes da
Sapucaí, ao lincharem, no mais puro estilo Baixada, a modelo
internacional Fann Xonna II. Tudo começou quando a modelo passou a
mão na bunda de Lívida. Espelho do belo nome, a colunável
replicou: “Bunda onde a condessa meteu o vibrador, fanchona nenhuma
passa a sapata. Dito isso, tirou da bolsa importada o estoque dos
bons tempos de detenta no Tâlavera Bruce. Seguindo o nobre exemplo
da amiga, a condessa abriu o “Terror do Bois”, sua famosa
navalha. Odile gritava palavrão em nove idiomas. Coube a Lívida
aplicar o golpe de misericórdia com seu Grelo Maior, uma variante da
umbigada. Desacordada, a modelo foi arrastada pela passarela do samba
e atada aos ferros da cabine, junto ao jurado de morte do quesito
Evolução, o qual deu dez! nota dez! e fugiu por unia viela. Fann,
entre um e outro autógrafo, foi empalada e torturada até a morte.
Aproveitando a liquidação, o delegado Luterinho Nazi atirou em
diversos populares, pediu mais verba e acusou Fann de ser o crioulo
forte, de boné, que matou Mariel.
Aldir Blanc, in Brasil passado a sujo
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