sexta-feira, 3 de fevereiro de 2023

De Camarote

Apesar dos esforços da polícia civil, confortavelmente instalada em cadeiras de lona à margem da pista (sem pretender chamá-los de marginais), que interrompeu várias vezes o merecido sono e o estudo d’0 favorito, e da pronta intervenção da FM, que suspendeu a pelada e passou a prender a polícia civil - em que pesem o leitão e as ameaças das comunidades de informações e dos mal-informados os integrantes das escolas de samba se recusam a deixar a passarela da Marquês de Sapucaí. Baterias emudecidas, estandartes abandonados, passistas e cabrochas espiam, embasbacados, a badema que otoridades, vips e vamps promovem (êpa!) nos camarotes.
O cafetão internacional xeque Harum Al-Eskarrar presenteou o Dr. Vidrado Deválium Dez, a “Marleide”, com a privada de ouro de seus aposentos não menos privados. E ainda repleta de cocô, o que dá mais colorido ao fato. Vidrado, destacado membro do Colégio de Cirurgiões e da Penitenciária Lemos de Brito, declarou para a posteridade: “Agora, quando eu quiser me suicidar, é só entrar no vaso e puxar a válvula. Morrerei na merda, como a maioria dos brasileiros, mas com um toque de distinção”.
No camarote ao lado, um Marechal da comunidade dos incomunicáveis ergueu sua taça: “Eu também como a grande maioria dos brasileiros!”. Já o xeque Harum, com um delicioso sotaque baiano, justificou seu rasgo de generosidade de forma singela: “Marleide seleciono legal as puta, num sabe?”.
O Troféu “Folião Mais Pitoresco” deverá ser concedido ao impagável (tá cobrando muito caro) Delegado Luterinho Nazi, elegantíssimo dentro do conjunto safári do recém-falecido traficante Laurindo Tambatajá.
Completavam o traje a inseparável tarrafa, chapéu de cortiça e rifle com mira telescópica “pra atirar em pandeirista”, segundo o bem-humorado agente da lei e da ordem. Luterinho, com charme e soco-inglês, exigiu que os gatos e pardos só se referissem a ele como Buana Nazi, o Grande Caçador Branco.
Cassandras e pessimistas inveterados sofreram rude golpe com um tocante episódio acontecido no camarote do industrial e contraventor (não necessariamente nessa ordem) Urânio Pólio Falcatrua, o “Fuinha do Alvoradão”.
Após chupar uma meia dúzia de paus, a modelo internacional Fann Xonna manifestou desejo de queimar um charo. Anfitrião impecável, Urânio mandou seu ajudante-de-ordens, Bicheir-Major-Aero-Transportável Aloísio Sagrado Coração, enrolar um de dois palmos. Consternados, os dois homens de visão souberam, por alcagüetes, que o fumo acabara logo após a passagem pelo camarote da comitiva das altas esferas (só a esposa do Deputado Keres Barata Arreboque tem 1,80m e pesa 115 quilos) políticas da situação. Informado a respeito do impasse, um assessor da Secretaria de Iiiçeguranssa, lotado num camarote próximo, cedeu maconha de sua própria capanga, Neuza “Enfia-o-Dedo-e-Roda”, aos quilos. O gentil-homem não quis se identificar, por estar sem documentos, e disse apenas que se chamava Inspetor-pra-Viagem Clóvis Mascarado de Melindros Filho. O grande Urânio agradeceu muito e prometeu pagar no Dia de São Nunca. “Quem dá ao próximo, em festa, adeus!”, acrescentou o rafles carioca.
Caído num terreno baldio das imediações, o cadáver do Juiz-Carregador Mártir Telúrico dos Santos considerou o gesto de Clóvis Mascarado inoportuno e de tendência criptocomunista. “Além do mais, ele deveria ter cobrado na hora, em espécie. Não foi pra isso que fizemos a Revolução.” O magistrado expressou-se em latim, por considerar língua morta mais compatível com seu estado de putrefação.
Uma nota: dois bi foi quanto o jurista Beto Nem-Pensar pagou ao legista Chicotinho Queimado para falsificar o atestado de óbito de sua amante (dos dois) Tetê Fufu Nicols, parda, gaga, idade média. Tetê faleceu do coração com seis tiros à queima-pele. Comenta-se que, antes do ataque, Tetê estava nua, abraçada ao peru da ceia do contínuo da cunhada da secretária do maítre do camarote de um ministro desses aí. O jurista, que tava de olho no mesmo peru, matou em defesa da honra, da farofa e dos miúdos.
Senhoras de nossa melhor sociedade, Lívida do Grelo Maior, Odile de Piranhas Margens Plácidas e a Condessa Lavanda de Prozz Tchittuta, ministraram (ui!) verdadeira aula de Moral e Cívica nos Camarotes da Sapucaí, ao lincharem, no mais puro estilo Baixada, a modelo internacional Fann Xonna II. Tudo começou quando a modelo passou a mão na bunda de Lívida. Espelho do belo nome, a colunável replicou: “Bunda onde a condessa meteu o vibrador, fanchona nenhuma passa a sapata. Dito isso, tirou da bolsa importada o estoque dos bons tempos de detenta no Tâlavera Bruce. Seguindo o nobre exemplo da amiga, a condessa abriu o “Terror do Bois”, sua famosa navalha. Odile gritava palavrão em nove idiomas. Coube a Lívida aplicar o golpe de misericórdia com seu Grelo Maior, uma variante da umbigada. Desacordada, a modelo foi arrastada pela passarela do samba e atada aos ferros da cabine, junto ao jurado de morte do quesito Evolução, o qual deu dez! nota dez! e fugiu por unia viela. Fann, entre um e outro autógrafo, foi empalada e torturada até a morte. Aproveitando a liquidação, o delegado Luterinho Nazi atirou em diversos populares, pediu mais verba e acusou Fann de ser o crioulo forte, de boné, que matou Mariel.

Aldir Blanc, in Brasil passado a sujo

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