Depois
de uma estreia retumbante, em 1963, com “Mas que nada”, “Chove
chuva” e “Por causa de você, menina”, a música de Jorge Ben
Jor, na época ainda Jorge Ben, vinha perdendo espaço. Num Brasil
cada vez mais politizado e polarizado, a espetacular batida de seu
samba-rock e o uso da guitarra elétrica passaram a ser vistos pela
turma mais sectária da MPB como sinais inimigos, símbolos do
imperialismo ianque e do abominável rock and roll.
“País
tropical” foi primeiro gravada em 1969 pelos tropicalistas Caetano
Veloso, Gilberto Gil e Gal Costa, que adoravam o estilo de Jorge e
tinham sua música como referência do movimento, marcando o início
da sua volta ao sucesso, incorporando influências do Tropicalismo à
sua maneira de compor. Logo em seguida, teve uma espetacular gravação
de Sérgio Mendes nos Estados Unidos. Mas foi com Wilson Simonal que
“País tropical” se tornou um dos maiores hits da história da
música brasileira.
Em
1970, o carioca Wilson Simonal rivalizava com Roberto Carlos como o
cantor mais popular do Brasil, como criador de um estilo alegre e
dançante que chamava de “pilantragem”. Emplacando um sucesso
atrás do outro, Simonal ouviu a música de seu velho amigo Jorge
sobre as maravilhas de viver num país abençoado por Deus e bonito
por natureza, de ser Flamengo e ter uma nega chamada Teresa, e adorou
seu balanço irresistível. Encantou-se também com sua linguagem
malandra e ufanista, que poderia se confundir com a radicalização
nacionalista da ditadura na campanha “Brasil, Ame-o ou deixe-o”,
mas se tornou o maior sucesso de sua carreira e uma das músicas mais
queridas de nossa história.
Simonal
também popularizou uma versão alternativa da letra, criada por
Jorge, em que as palavras eram cantadas sem a última sílaba, e se
tornou mais popular que a versão original: “Mó num pá tropi”
se tornou ícone sonoro de um tempo.
Com
uma levada rítmica empolgante e uma melodia intuitiva e fluente, a
declaração de amor ao Brasil de Jorge, por sua qualidade e
sinceridade, superou qualquer eventual conexão com o ufanismo
autoritário e sobreviveu no tempo como um hino de alegria e
brasilidade.
Nelson Motta, in 101 canções que tocaram o Brasil
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