– Virgília?
interrompi eu.
– Sim,
senhor; é o nome da noiva. Um anjo, meu pate-ta, um anjo sem asas.
Imagina uma moça assim, desta altura, viva como um azougue, e uns
olhos... filha do Dutra...
– Que
Dutra?
– O
Conselheiro Dutra, não conheces; uma influência política. Vamos
lá, aceitas?
Não
respondi logo; fitei por alguns segundos a ponta do botim; declarei
depois que estava disposto a examinar as duas coisas, a candidatura e
o casamento, contanto que...
– Contanto
que?
– Contanto
que não fique obrigado aceitar as duas; creio que posso ser
separadamente homem casado ou homem público...
– Todo
o homem público deve ser casado, interrompeu sentenciosamente meu
pai. Mas seja como queres; estou por tudo; fico certo de que a vista
fará fé! Demais, a noiva e o casamento são a mesma coisa... isto
é, não... saberás depois… Vá; aceito a dilação, contanto
que...
– Contanto
que?... interrompi eu, imitando-lhe a voz.
– Ah!
brejeiro! Contanto que não te deixes ficar aí inútil, obscuro, e
triste; não gastei dinheiro, cuidados, empenhos, para te não ver
brilhar, como deves, e te convém, e a todos nós; é preciso
continuar o nosso nome, continuá-lo e ilustrá-lo ainda mais. Olha,
estou com sessenta anos, mas se fosse necessário começar vida nova,
começava sem hesitar um só minuto. Teme a obscuridade, Brás; foge
do que é ínfimo. Olha que os homens valem por diferentes modos, e
que o mais seguro de todos é valer pela opinião dos outros homens.
Não estragues as vantagens da tua posição, os teus meios...
E
foi por diante o mágico, a agitar diante de mim um chocalho, como me
faziam, em pequeno, para eu andar depressa, e a flor da hipocondria
recolheu-se ao botão para deixar a outra flor menos amarela, e nada
mórbida, – o amor da nomeada, o emplasto Brás Cubas.
Machado de Assis, in Memórias Póstumas de Brás Cubas
Nenhum comentário:
Postar um comentário